| Carlos Panni
Médico e escritor
Um dos segredos para aliviarmos o peso de velhos e desnecessários conceitos, preconceitos, obrigações e compromissos é conseguir deixar o passado no passado. Realmente, tarefa difícil, por mais útil e necessária que possa ser. O que vem grudado na nossa raiz, incrustado em nosso cerne, não nos larga com facilidade. Às vezes podemos sacudir, espernear, tentar esquecer ou afugentar, mas os aprendizados e sentimentos adquiridos, principalmente na primeira infância, estão tão profundamente inseridos na mente e no coração que não “desgrudam” com facilidade. Mesmo que não tomemos consciência, passam a comandar nossos pensamentos e emoções de forma tão sutil e ao mesmo tempo poderosa, que repetimos e repetimos velhos hábitos mentais e comportamentais, apesar do sofrimento e do prejuízo que possam nos causar.
Ninguém é uma ilha, ninguém é exclusivamente fruto de si mesmo… Na composição emocional e intelectual de cada um há uma complexa teia de informações e interferências que nos tornam seres ainda mais complexos, “enredados” e únicos. O conhecimento do passado e as suas repercussões no presente podem não solucionar nossos problemas, mas poderão nos orientar – e muito – no entendimento de quem somos e porque somos… e, nos dar algumas pistas e estímulos para a mudança.
Se eu quero ser diferente, ter sentimentos e atitudes diferentes, preciso – antes – pensar diferente para poder agir de forma diferente e – viver diferente. Para isso é fundamental “deixar o passado no passado”.
Ninguém mais usa o botão para mudar o canal do televisor ou o celular analógico (tijolão), ou a manivela para dar partida no carro… Tais “tecnologias” já foram modernas e muito úteis, mas hoje são sucatas.
Por que nós, “homo sapiens”, ainda insistimos em manter tabus, preconceitos e heranças psicológicas altamente prejudiciais para a nossa melhor qualidade de vida?
Por que manter hábitos e valores que só atravancam o nosso desenvolvimento, emperram nossa caminhada e bloqueiam, sobretudo, os nossos relacionamentos mais íntimos? Larguemos as sucatas enferrujadas ou bolorentas, substituamo-las por novos materiais, novas “tecnologias”, novos valores, conceitos e atitudes… Deixar o passado no passado poderá tornar nossa vida mais leve, mais flexível, mais produtiva… e feliz!