Por Aline Peterson
Professora de Inglês e Português e estudante de Mestrado na área de Literatura Comparada
Nos último meses, algumas questões geraram polêmica em uma das premiações mais aguardadas do cinema. A falta de diversidade racial entre os indicados aos prêmios foi uma delas, o que gerou o desagrado de grandes nomes do cinema, como Will Smith e Spike Lee. Chris Rock, que apresentou a cerimônia de entrega do Oscar este ano, dedicou seu discurso à questão, que foi mantida viva durante a noite. De uma forma áspera, mas bem humorada, ironizou a polêmica durante a premiação, criticando ambos os lados: a Academia e os que anunciaram o boicote a ela.
Certa controvérsia também girou em torno de quem seria o melhor ator do ano. Entre os indicados estavam Eddie Redmayne, por A Garota Dinamarquesa; Matt Damon, por Perdido em Marte; Bryan Cranston, por Trumbo: Lista Negra; Leonardo DiCaprio, por O Regresso e Michael Fassbender, por Steve Jobs. A indicação de Leonardo DiCaprio, no entanto, produziu uma grande torcida para que ele fosse o grande vencedor, já que, em pouco mais de vinte anos de carreira cinematográfica protagonizando grandes filmes, o ator não havia ganhado nenhum Oscar até então, apesar de já ter ganhado o título de melhor ator em outras premiações. Nas redes sociais, a satisfação por parte de muitos fãs com a vitória de DiCaprio foi nítida, mesmo com tamanha torcida para Eddie Redmayne, vencedor do prêmio de melhor ator no ano passado com A Teoria de Tudo, e que esse ano destacou-se em Garota Dinamarquesa, um papel completamente diferente daquele, no qual ele outra vez atuou com perfeição. Iñárritu venceu mais uma vez como melhor diretor, com o filme O Regresso. No ano anterior ele havia recebido a mesma premiação por Birdman. O filme mais premiado, no entanto, foi Mad Max, com seis estatuetas, todos em categorias técnicas.
Talvez uma das grandes surpresas do Oscar tenha sido o vencedor do prêmio de melhor filme, Spotlight: Segredos Revelados, do diretor Tom McCarthy. O filme leva o nome da equipe editorial de um jornal de Boston, onde os repórteres Michael Rezendes (Mark Ruffalo), Sacha Pfeiffer (Rachel McAdams), Matty Carroll (Brian d’Arcy James) e Walter Robinson (Michael Keaton), com imensa motivação, muitas vezes passam mais de um ano investigando um caso. O filme é baseado em fatos, que foram relatados em um livro escrito pelos jornalistas do caso real. Spotlight acusa o abuso sexual de crianças praticado por quase cem sacerdotes católicos na cidade de Boston, que comporta uma das maiores comunidades católicas dos Estados Unidos. Entretanto, o filme nunca desrespeita a fé ou as pregações do catolicismo. De acordo com o diretor, longe de ser um ataque à Igreja, o filme constitui uma forma de reinventar o jornalismo investigativo usando um episódio real importante.
O roteiro foi criado em forma de thriller e a trilha sonora vai de encontro ao clima plúmbeo de Boston e ao universo pálido onde crianças, a maioria encontradas em um ambiente familiar vulnerável, são atraídas por alguns padres. O opoente maior de Spotlight é a gigantesca influência que a Igreja usufrui sobre aquela cidade, tentando esconder a hipocrisia de uma parte da Igreja e impondo a burocracia para dar continuidade às praticas de abuso. O filme põe o expectador em uma perspectiva singular ao inseri-lo dentro dele. Quando constatamos os acontecimentos ao lado dos jornalistas, é como se estivéssemos também dentro da redação, enquanto eles arriscam incansavelmente combater a influência da Igreja, tentando contornar a burocracia imposta pelos poderosos.