Texto por Denise de Oliveira Milbradt | Foto Divulgação
Subir ao altar ainda simboliza o sonho de viver uma grande história de amor. Mas, diferente dos contos de fadas, o felizes para sempre nem sempre é tão feliz assim. São as despesas, relações familiares, divergências de opinião, conflitos envolvendo os filhos e o desgaste natural da relação, somado às mágoas e rancores. A falta de tempo também é apontada pelos especialistas como um importante agravante para o afastamento das pessoas. É quando aparece a probabilidade de os conflitos culminarem em separação.
A instituição familiar desintegra, os filhos sofrem, o patrimônio precisa passar pelo aval jurídico para a partilha. A redução no padrão de vida, a quebra da rotina levada durante muitos anos e, o pior, a frustração de um sonho que não deu certo é inevitável.
Até dá para dizer que, se há algumas décadas o divórcio era tabu, hoje é quase tendência. Levantamentos mostram que as mulheres continuam subindo ao altar, e muito. Mas, se as coisas vão mal, já não hesitam tanto em sacramentar o fim da união. Fazem isso sem os medos do passado e, em geral, se casam de novo – e de novo se preciso for. O que querem é ser felizes. Não estar com alguém apenas por estar. Já que é assim, vale perguntar: qual é a receita para conhecer alguém, apaixonar-se mais uma vez, começar um novo relacionamento e, dessa vez, dar certo? Para os especialistas, uma boa atitude é mudar o foco e ter um olhar mais otimista em relação ao rompimento e à fase de “solteira de novo”. Até porque, se a separação não é o final feliz dos contos de fadas, pode ser o caminho de um feliz recomeço. “Apesar de frustrante, o fim de um casamento não é motivo para desistir da busca de completude. Embora, é claro, isso aconteça mais dentro do que fora de nós”, diz a psicóloga Claudia Lins, da Universidade Federal de Minas Gerais.
Muita gente já parece enxergar as coisas do mesmo modo. Entre os casamentos que acontecem hoje no Brasil, a maioria ainda é o de estreia, o primeiro de ambos os noivos. Mas, segundo dados recém-divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse número vem caindo ao mesmo tempo que cresce cada vez mais a participação no bolo dos chamados recasamentos. Entre as mulheres que formalizaram a união em 2013, 24,3% já tinham tido a mesma experiência antes. Isso corresponde a dez pontos percentuais a mais sobre o mesmo número dez anos antes, em 2003.
Ainda que os divórcios sejam cada vez mais comuns, nem por isso são fáceis. A dor da separação pede tempo de recuperação, dizem os especialistas. Há o momento do luto, a saudade da rotina que se tinha e do antigo companheiro, ainda que ele não fosse mais compatível. Por isso, um bom primeiro passo depois de um rompimento é parar para fazer uma profunda reflexão pessoal. É necessário descobrir o que somos sem o outro. E vale tudo que contribua para melhorar a autoestima, já que não é nada raro a mulher que descasa sentir-se insegura para retomar os tempos de paquera e sair em busca de um novo amor. Algumas ainda pensam que aos 30, 40 ou mais, acham que não estão mais em tão boa forma, que o trabalho e os filhos são prioridade e falta tempo para “essas coisas” ou que não tem mais aonde ir porque, em todo lugar, só vê gente muito jovem. É quando as redes sociais cada vez mais estão tornando-se uma importante aliada nesse recomeço.
Para o psicólogo e terapeuta familiar Felipe Pereira de Assis atualmente os casamentos estão mais tardios e as separações mais precoces em virtude do amadurecimento do direito da livre escolha. Até porque antigamente a mulher era obrigada a casar cedo, por uma questão social. Com o passar do tempo essa realidade foi sendo questionada. Hoje as pessoas não se casam mais por obrigação e quando percebem que a relação não funciona mais, separam-se. “É uma conquista sócio-histórico muito importante. O próprio Código Civil está em constante atualização para acompanhar essa evolução. Contudo, na minha experiência clínica com casais e famílias, não tenho como estabelecer uma distinção entre homens e mulheres na decisão de separação. Talvez, em virtude de todo esse processo histórico, as mulheres estejam liderando a decisão pela separação. Em alguns casos, defendo que essa decisão seja o mais saudável possível, o que significa uma tomada de decisão feita pelo casal. Percebe-se que as relações (tanto na sua formação e manutenção, como na dissolução), quando realizada em conjunto, apresenta menores índices de sofrimento para todos os envolvidos”, orienta Assis.
Superando as dificuldades
O processo de separação é uma fase delicada para qualquer pessoa. Existe uma ruptura não apenas dos fatores econômicos e materiais, mas principalmente de laços afetivos, emocionais, que por anos sustentaram aquela relação. O psicólogo aconselha a realização de terapia para que o processo transcorra com menos danos possíveis. Uma boa estratégia é investigar junto com o casal e com a família os motivos da separação, pois, apesar de difícil, por muitas vezes ela é a decisão mais acertada para a manutenção da saúde emocional de todos. “É comum vermos casais em conflitos que, em nome da “união família”, expõe toda a família a dolorosas situações de conflitos (famílias disfuncionais ou em situação de crise). A crise conjugal nunca fica restrita ao casal, ou seja, por mais esforço que casal faça para manter aquilo em “segredo”, os outros membros da família sempre acabam sendo atingidos pela crise. No processo terapêutico, o casal e a família encontram espaço para trabalharem seus conflitos e evoluir para um processo mais funcional de desenvolvimento, mesmo que este seja a partir da separação”, aconselha Felipe Pereira da Silva.
Uma separação acarreta implicações para todos os outros estágios do ciclo evolutivo da família. Não é a toa que o divórcio é considerado o segundo evento de vida mais estressante, ficando atrás apenas em situações de perdas de entes queridos, segundo a psicóloga especialista em terapia de família e de casal, Débora de Oliveira. Para ela, alguns aspectos importantes devem ser considerados no trabalho do psicólogo como, por exemplo, auxiliar o paciente a desconstruir a conjugalidade após a separação e, simultaneamente, reconstruir a identidade individual. Tudo isso é um processo lento e vivenciado com muita dificuldade, pois envolve os processos de luto do casamento e da família perdida; identificação do seu papel na dissolução do casamento e o planejamento de ações a serem adotadas daqui para frente.
Medicação controlada?
E quando o assunto é a administração de medicamentos para o controle de uma crise de depressão ou mesmo de pensamentos suicidas (em casos mais graves), o psicólogo Felipe Pereira de Assis se mostra favorável. Conforme ele está comprovado cientificamente que muitas questões orgânicas podem contribuir para a disfunção mental (e vice-versa), prejudicando os pensamentos, sentimentos, interferindo nas relações (conjugais, familiares e sociais). A recomendação de medicações, feita por um profissional adequado, pode auxiliar de forma significativa na melhora do paciente. “O tratamento mais completo é o acompanhamento psicológico ou psicoterapêutico associado ao tratamento medicamentoso com psiquiatras, obedecendo a gravidade e a necessidade dos casos. Isso não significa que todos precisem de medicamento, cabendo aos profissionais das áreas da saúde mental (principalmente aos psiquiatras) essa decisão”, ratifica o especialista.
Divisão do patrimônio é complicador
Débora lembra que alguns detalhes no processo de divórcio tornam-se complicadores ao longo do processo e que se não forem bem acertados nesse período de transição, com antecedência, podem tornar-se fator de conflito. O manejo do sustento financeiro, presentes ou empréstimos devem ser negociados em comum acordo, a escolha da residência e dos móveis deve ser respeitada de modo a estimular a independência e as escolhas de cada um, combinar as visitas e “as passadinhas rápidas” para que não seja um momento de desconforto entre pais e filhos. Esse momento constitui-se em um período de adaptações tanto para os pais quanto para os filhos que precisam lidar com “A ausência” dentro do ambiente familiar. “Um casal que não elabora bem a separação conjugal acabará também impedindo o desenvolvimento emocional e psicológico do filho, acarretando problemas de relacionamento tanto no âmbito familiar quanto no individual. Esse rompimento disfuncional dos adultos contribui para um sentimento de vazio e de vulnerabilidade do filho, o qual pode perder a vitalidade por algum período”, conta a especialista em terapia de família e de casal.
Aprenda a recomeçar
– Olhe para si: para os seus sentimentos, pense no seu futuro;
– Valorize-se: você existe independente do outro;
– Respeite-se: observe seu ritmo, seus desejos;
– Não se culpe: se o relacionamento chegou ao fim, foi consequência da relação, ou seja, a responsabilidade é do casal. Não existem culpados ou inocentes;
– As relações são repletas de experiências: extraia dessa experiência as coisas positivas para sua evolução como indivíduo e que, provavelmente, contribuirá para estabelecer relações mais saudáveis no futuro;
– Lembre-se: todas as situações da vida geram aprendizado. Um relacionamento que terminou é apenas uma deles.