Sabe aquelas pessoas que vivem no mundo da lua? Parece que enquanto a cabeça está lá nas alturas, é o corpo apenas que fica circulando aqui embaixo, e nem sempre fazendo o que deve! Muitas vezes qualquer pessoa pode acabar ligando o piloto automático, e simplesmente ir executando suas tarefas sem prestar realmente atenção no que está fazendo.
Mas existe um limite entre a pura e simples distração e o déficit de atenção (TDAH). E muito se engana quem pensa que o problema tem que estar sempre associado à hiperatividade. A psiquiatra clínica Evelyn Vinocur nos ensina que o quadro pode ser dividido em três tipos: predominantemente desatento, o predominantemente hiperativo-impulsivo e o combinado (que mistura os dois outros). “Em princípio, você até pode confundir o TDAH de tipo desatento com uma simples distração natural. Mas, se conviver um tempo com a pessoa, você vai perceber que é uma qualidade diferente de distração”, assinala a especialista. Como podemos diferenciar?
Confira as principais diferenças entre cada um desses problemas:
Diferindo os sintomas – O primeiro diferencial entre desatenção e déficit de atenção é a duração. A distração comum é passageira e dura pouco tempo. Para o psicólogo Fernando Elias José, especialista em cognição humana, o principal sintoma é quando a falta de atenção começa a atrapalhar o dia a dia. Por exemplo, quando ela não consegue se concentrar de forma alguma em uma tarefa importante que exige atenção.
De qualquer forma, existem alguns critérios para o diagnóstico: no caso do TDAH tipo desatento, o adulto ou a criança precisam apresentar, no mínimo, seis características marcantes de falta de atenção, como dificuldade de concentração em uma aula ou palestra, problemas de memória de curto prazo e facilidade para desviar a atenção de uma tarefa. Em caso de desconfiança desse tipo de diagnóstico, vale consultar um psiquiatra ou psicólogo e fazer o teste completo.
Crianças merecem atenção – Normalmente o déficit de atenção surge na infância, e dois terços delas costumam levar o problema para a idade adulta. Quanto mais cedo você descobrir o problema, melhor. Nas crianças os sintomas são um pouco diferentes do que nos adultos. “A desatenção faz com que a criança passe a não entender todo o conteúdo das aulas e que, consequentemente, perca o interesse pelos estudos e até pela escola, uma vez que ela comete muitos erros por distração, não entende direito o que é falado”, explica a psiquiatra Evelyn. Quando a criança começa a apresentar esse tipo de sintoma, vale os adultos ficarem mais de olho.
Porém, como muitas vezes os pais e professores percebem o TDAH devido à hiperatividade, uma criança com o tipo desatento pode não ser diagnosticada, até porque ela pode conseguir executar suas tarefas e atividades, só precisará de mais energia para isso.
O que causa o problema?
No caso da TDAH, investiga-se ainda o que possa motivar o aparecimento do problema. Algumas evidências mostram que isso pode ser genético, como aponta a psiquiatra Evelyn. “Não raro, um dos pais e/ou outros membros da família são diagnosticados como portadores de TDAH durante a consulta da criança”, explica a especialista.
Já a distração em si é causada por uma questão de automatismo. “Algumas atividades acabam ficando fixadas em nossa mente pela repetição, é o que chamamos de memória implícita”, explica o psicólogo Fernando Elias José, especialista em cognição humana. Por isso mesmo, ao fazer essas tarefas, como dirigir, nós não precisamos prestar 100% de atenção. E às vezes acabamos prestando nenhuma mesmo!
Formas diferentes de resolver
Para um desatento comum, a melhor forma de desligar o piloto automático é o óbvio: prestar mais atenção! Quando a falta de foco está atrapalhando o dia a dia, sair das situações de conforto é a melhor saída, explica o psicólogo Elias José. Se seu carro já o leva automaticamente ao trabalho, por exemplo, por que não mudar um pouco o caminho? A auto-observação é a melhor forma de fazer isso! Mas mexer o corpo também é útil.
No caso de quem tem déficit de atenção, esse tipo de técnica pode ajudar, mas sempre será preciso aliá-la com outros métodos. A medicação é a mesma para qualquer tipo de TDAH. “Os psicoestimulantes são bastante eficazes para os sintomas de hiperatividade e impulsividade (em torno de 70-80%) e tem em torno de 50% de eficácia para a desatenção tanto nas crianças como nos adultos”, relaciona a psiquiatra Evelyn.
O acompanhamento do transtorno de déficit de atenção normalmente é multidisciplinar e vai além da medicação. “Muitos pacientes usam a psicoterapia focada e direcionada. No caso a terapia cognitiva-comportamental é o que costuma dar mais resultado nos pacientes”, conta o psicólogo Elias José. Técnicas como coaching para TDAH também são alternativas.
O neurofeedback também pode ajudar. O tratamento consiste em ensinar a pessoa a controlar alguns estímulos de seu corpo, através de um gráfico com linhas que mudam de posição conforme o estímulo correto ou errado, ou com a interface de jogo. “A pessoa com TDAH tem uma alteração sinal eletroencefalográfico, que é captada pelo nosso aparelho. Usamos então um jogo, que tenha uma figura se mexendo. A figura só se moverá da forma correta quando a pessoa controlar esse sinal” explica Jerri Godoy, fisioterapeuta sênior do Centro de Reabilitação do Hospital Israelita Albert Einstein.