Texto por Denise de Oliveira Milbradt| fotos divulgação
Esperar a data do seu nascimento foi uma tortura. Bastou enxergar seu rosto, um sorriso, um olhar e já estávamos vulneráveis ao pequeno ser que nos assemelha (e muito) fisicamente. É tanto amor que agradá-lo virou quase uma obsessão. Os horários e compromissos passam a ser compatíveis com os desejos do filho, assim como a programação da televisão. A casa passa a ser extensão do seu quarto e, ele dita as demais regras do casal. Apesar da dedicação dos pais – que se visualizam como os melhores protetores do mundo – cuidado, podem estar diante de um caso clássico de Infantolatria.
Segundo especialistas, existe um período em que o pequeno deve, sim, reinar. No entanto, ele é curto e acontece assim que ele nasce até porque os pais precisam entender e desvendar a personalidade do bebê. Esse período, no entanto, deve estender-se até o segundo ano de vida da criança. A partir daí você precisará fazê-lo perceber que existem outras pessoas na família e a vontade de todos deve ser respeitada. É quando isso não acontece que os danos à formação dela acontecem. Ela passa a se considerar o elemento mais importante e entender que todas as suas vontades devem ser atendidas.
É preciso entender que ao deixar as decisões nas mãos dos filhos, os pais acabam permitindo que eles criem uma falsa sensação de poder e autonomia. Assim, quando crescerem, isso poderá se transformar em insegurança, já que sentirão a ausência da referência de segurança passada por um adulto. Afinal, o mundo não vai parar para atender aos desejos deles e eles não saberão como se comportar.
A melhor forma de identificar se a Infantolatria existe no seu lar é preciso observar o comportamento do pequeno – seja na escola ou em brincadeiras com outras crianças. Se o seu filho não aceitar um não como resposta ou desrespeitar a vontade dos coleguinhas, é hora de ficar atento. Mas, não se desespere mudar é sempre possível.
“Claro que ter filhos muda a rotina da casa, isso é fato consumado. Mas, como em tudo na vida é preciso ter moderação, limites. Nessa situação não seria diferente”, explica a psicóloga Lisandra Campos. Segundo ela, os casos Infantolatria não são considerados doença, tão pouco uma síndrome, mas sim um comportamento disfuncional que pode ser da criança, mas que se originou com os pais. “Afinal eles que se deixaram levar a essa situação pelos mais variados motivos”, afirma.
A vida moderna também nos impõe alguns agravantes, que podem levar os pais a desejarem oferecer algum tipo de compensação. É o caso dos pais que saem para os seus trabalhos às 7h da manhã e retornam às 7h da noite. O que, na opinião da psicóloga, isso não os isenta de cumprir com suas obrigações da casa, tampouco com os filhos. Mas não devem sentir-se culpados pela ausência, pois para oferecer uma boa criação aos pequenos precisamos fazer algumas escolhas e existem várias formas saudáveis de compensar nossa ausência com os filhos. “A melhor forma de compensação é a do afeto, mesmo que hoje vivamos num mundo tão tecnológico e mais atrativo. É o afeto que vai formar o caráter do nosso filho e não somente a tecnologia”, detalha Lisandra.
Acertando as contas na vida adulta
As consequências de uma vida cheia de compensações cobra uma conta cara no futuro e é geradora de muito sofrimento. Na infância menos, pois na maioria das vezes a criança é a vencedora da “batalha” quando falamos de uma que ainda está na primeira infância. Já na fase escolar ela começa a sofrer mais porque irá conviver com colegas e professores, que nem sempre vão querer ser mandados por ela. É aí que iniciam os primeiros problemas com a baixa tolerância e frustração (podendo manifestar comportamentos mais agressivos ou depressivos) variando de criança para criança.
Mais tarde, assim como a criança cresce, cresce também os sofrimentos originados pela Infantolatria. Conforme a psicóloga Lisandra Campos é nesse estágio de um individuo que não tratou seus problemas de baixa tolerância (quando deveria) e que ainda acumulou insegurança por não ter durante sua infância exemplos de pessoas adultas para em sua vida seguir e por em prática, ela se percebe angustiada. “Quando somos cobrados por determinadas atitudes e não sabemos o que fazer nos angustiamos muito, além é claro, de outras problemáticas”, completa.
Abaixo os reizinhos e princesinhas
A vida real não é um conto de fadas e para tanto é preciso criar um filho e não um reizinho ou princesa. Os pais precisam proporcionar uma vida saudável regada a afeto e limites. As crianças (e todos os indivíduos) para se sentirem seguras precisam sentir-se amadas, mas também precisam entender que o seu espaço vai até onde inicia o espaço do outro, seja o outro um irmão, os pais, colegas da escola, enfim é preciso entender que cada um tem o seu espaço nesse mundo.
Conforme a psicóloga Lisandra, quando essa situação de Infantolatria já está instaurada na família, dificilmente se consegue reverter o problema sem a ajuda de um profissional. “Nesse caso estamos falando de um psicólogo que, provavelmente, irá realizar um trabalho com a criança ao propor novos padrões de convivência mas sempre em conjunto com os pais orientando-os e ajudando-os na persistência desses novos padrões. É um trabalho árduo, porém com o engajamento de todas as partes envolvidas tem um resultado muito satisfatório”, confirma.
E como fica o casal?
Além de todas as complicações causadas pela Infantolatria na vida dos filhos, ela prejudica – e muito – o casal que a promove. Na relação saudável, o casal continua sendo o mais importante na família mesmo com a chegada da criança. Se os pais mantêm o filho no centro por mais tempo do que o necessário, acabarão se afastando, segundo especialistas em Infantolatria.
Excessos compensatórios:
•Muitos presentes sem “motivos” aparentes, cuja criança vai adorar receber, mas não vai entender o que de bom ela fez para ser recompensada;
•Passeios e fast foods fora de horários convencionais;
•Todas as decisões familiares passam a ser tomadas pela criança.
Precisando de ajuda?
A Clínica Equilibrium realiza mensalmente ciclos de palestras onde são abordados temas diversos inerentes ao dia a dia das famílias. Caso tenha interesse em saber mais sobre o tema Infantolatria ou precisar de alguma orientação, basta ligar para o (51) 3471-1728 e agendar um horário.