Prof. Saul Sastre
Diretor de Administração e Finanças do Daer
Doutorando em Administração
Sou fã do filósofo Mário Sérgio Cortella e recentemente assisti uma de suas palestras que falava sobre insatisfação. Segundo ele, existem dois tipos de insatisfações, a insatisfação positiva e a insatisfação negativa.
A primeira, refere-se ao “gosto de quero mais”. Essa insatisfação positiva se manifesta quando ao terminarmos um livro, ficamos tristes porque não queríamos que chegasse a fim. O mesmo acontece com um filme que ao terminar, deixa uma vontade de continuar assistindo, ou uma aula, que ao chegar ao final, deixa a turma com expectativa positiva para o próximo encontro. A segunda insatisfação é a negativa, que é a insatisfação que estamos acostumados, quando vamos a um restaurante e somos mal atendidos, ou em uma loja e os produtos recém comprados, apresentam defeitos. Ou quando contratamos um serviço que fica ruim. Enquanto a insatisfação positiva é altamente benéfica, a negativa é maléfica e faz mal, não só aos negócios, mas para todo mundo.
Escrevendo sobre isso, lembrei de uma aula que tive há algum tempo, quando fazia um curso em Montevidéu. Aquele dia havia amanhecido diferente, todos nós da turma estávamos em imersão em um país vizinho, longe de tudo e todos, com o professor falando um idioma diferente. Perez Lindo, como era chamado, Filósofo Argentino, abriu a aula agradecendo a presença de todos e salientando o privilégio de estarmos podendo investir aquele tempo no nosso crescimento. A partir dali, aquela manhã fria, começou a ficar quente com seus ensinamentos que fizeram diferença na minha carreira. Falou sobre política e sociologia. Contou que durante o governo militar na Argentina, por questões ideológicas, foi exilado no Brasil. Chegando em São Paulo, apesar de ser doutor em sua área, estava sem documentos e só conseguiu trabalhos braçais. Apesar de ser ateu, ironicamente sobreviveu as custas de caridade de um padre da Igreja Católica. O que mais lhe afligia era a saudade da família, que sequer sabia que ele estava vivo. Segundo ele, foram sete duros anos, conhecendo as agruras da vida.
Ao longo da minha trajetória acadêmica, tive diversos professores que muito me marcaram, entre eles o Cortella e o Perez Lindo e da insatisfação positiva que me causaram. Sempre que posso, mato a saudade lendo seus livros, alguns traduzidos para várias línguas, contando histórias e teorias que quando chegam ao fim, nos deixam com vontade de aprender mais.