Carlos Panni – médico e escritor
Vivemos pensando e elaborando mentalmente as mais diferentes conjecturas sobre tudo e sobre todos. Até enquanto dormimos fazemos nossas elucubrações mentais, por mais esdrúxulas que possam parecer.
Na maioria das vezes, graças ao nosso sistema de crenças, acreditamos em nossos pressupostos e pensamentos como verdadeiros. Isto é mais ou menos óbvio, já que elas foram internalizadas desde há muito. Em decorrência delas, acreditamos no que acreditamos, sem muito ou nenhum questionamento.
A partir daí começamos a ver o mundo de acordo com a cor e a qualidade das lentes da nossa luneta mental. E como a luneta tem um campo visual bastante limitado, restrito será nossa visão dos outros, do mundo e de nós mesmos. Além disso, se a cor da lente for clara, cristalina, sem distorções, nossa visão poderá ver nítido, ao vivo e a cores. No entanto, se ela for embaçada e escurecida pelas fuligens das vicissitudes e deformadas pelas carências e frustrações, provavelmente veremos o entorno nos “cinquenta tons de cinza”. Aí residem três grandes desafios: o primeiro é descobrir como alargar o campo de visão buscando ver o todo, sem nos fixarmos apenas na parte ou nos detalhes (geralmente os ruins!); o segundo, perscrutar, além das aparências, o conteúdo, o cerne, a essência; o terceiro, limpar a lente mental das quantas distorções que acabamos absorvendo pela (des)educação que nos foi passada e repassada, impressa e reimpressa no consciente e no inconsciente, na cabeça e no coração.
Em suma, é fundamental começarmos por um profundo questionamento: – Como vejo o mundo, as pessoas, o todo, as partes, o que penso, o que falo, o que vejo, o que me encanta ou me escandaliza, o que aceito por opção ou por obrigação, o que escolho, o que eu quero e o que não quero, que eu faço por imposição ou por legítima e espontânea vontade…?
Se a vida está perdendo a cor e se eu só vejo o que não gostaria de ver e vivendo o que não gostaria de viver – talvez seja de bom alvitre visitar um “oculista da mente” para tratar da nossa miopia ou das cataratas mentais e emocionais.
“Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz” – Platão