Prof. Saul Sastre
Diretor de Administração e Finanças do Daer
Doutorando em Administração
Desconheço pessoal mais crítico com a gestão das empresas onde trabalham que os alunos de administração. O motivo é óbvio, passam a noite escutando seus professores e durante o dia tem a oportunidade de vivenciar toda a teoria nos seus ambientes de trabalho. E mesmo que a teoria da sala de aula, algumas vezes esteja um pouco longe da prática, as boas práticas de gestão devem sempre ser observadas, para assim atingir o sucesso planejado pela organização.
O fenômeno da criticidade segue curso afora e vai até o final. E na medida que o aluno avança no curso, ocorre outro fenômeno, a troca das roupas informais, por roupas mais profissionais, decorrentes do progresso na empresa, proporcionado pelo estudo e dedicação. O aluno chega nas vésperas da formatura com a impressão exata de que sua empresa está muito diferente desde que começou a trabalhar lá. Pensa em dar outros voos e se aventurar em outros ares.
Assim foi com Osvaldo. Brilhante aluno do curso superior de administração. Estava com 25 anos quando, incentivado por seu chefe, resolveu voltar aos estudos e concluir o ensino médio. Depois, vendo que as oportunidades de sucesso iniciavam dentro dos livros, fez vestibular e conseguiu ingressar na faculdade. Trabalhava em uma indústria de grande porte como auxiliar e lá se realizava na profissão. Com o tempo começou a sentir a necessidade de ter novos desafios. Estava cansado de fazer sempre as mesmas coisas. Um pouco desmotivado foi procurar seu chefe, o mesmo que havia lhe incentivado a voltar aos estudos e contou-lhe seus problemas. Os olhos de Osvaldo precisavam voltar a brilhar, precisava de novas paisagens, novos desafios. Pensou em procurar um novo emprego, talvez montar o seu próprio negócio, caso as coisas não melhorassem, mas não precisou, foi promovido para líder de linha de produção e assim, dia após dia, seguiu se desenvolvendo e trabalhando na mesma empresa.
Ainda lembro da última aula, no último semestre, as vésperas da formatura, quando ele veio conversar comigo. Sua vida havia mudado consideravelmente, já ocupava um posto mais elevado na empresa, tudo decorrente do seu esforço pessoal para trabalhar durante o dia e estudar a noite. Somente uma coisa não havia mudado, desde que decidira voltar a estudar seu futuro continuava incerto, porém com ótimas perspectivas. E nossa conversa foi exatamente sobre esse futuro. Osvaldo queixava-se que desde que havia iniciado na empresa ela havia mudado muito, principalmente depois de ter sido vendida para um fundo Norte Americano. Que os processos haviam mudado para pior, que os colaboradores não estavam sendo valorizados, que as mudanças necessárias para manter a empresa saudável não estavam acontecendo…
Mas será que foi a empresa mesmo que mudou? Talvez Osvaldo tenha se desenvolvido muito além e que estava pronto agora para novos voos… Coisas da vida que acontecem com quem se preocupa em ser melhor a cada dia.