Texto por Rita Trindade | Foto Divulgação
Quando somos crianças ficamos vidrados em desenhos infantis de super-heróis, a possibilidade de fazer o bem, lutar contra o mal, salvar a vida de alguém que está em perigo nos encanta. As brincadeiras preferidas são as que assumimos o papel dos nossos ídolos fictícios e então, como num passe de mágica, ficamos fortes e cheios de poderes. Seja com uma capa, um escudo ou uma espada, a fantasia nos torna detentores de poderes incríveis. Podemos voar, ler pensamentos, atravessar paredes, ter uma super velocidade e até mesmo curar e salvar a vida de alguém.
Então crescemos e toda aquela inocência e sentimento de “salvar o mundo” fica para trás, perdida em nossas lembranças mais estimadas e distantes. E atitudes simples que realmente poderiam ajudar a vida de alguém são ignoradas com as velhas desculpas de sempre. Vamos nos esquivando de olhar para o outro e perceber a sua necessidade. E então, será que aquela criança que sonhava em ser um super-herói se orgulharia de você hoje em dia? Se neste momento, você está pensando que poderia, quem sabe, fazer algo por alguém, temos uma dica: você sabia que com apenas 5 ml de sangue é possível salvar uma vida? Isso mesmo, ser um verdadeiro super-herói da vida real é mais fácil do que você imagina.
Você pode ser um doador de medula óssea e salvar a vida de alguém. Qualquer pessoa que tenha entre 18 e 55 anos com boa saúde pode realizar a doação. A medula é retirada do interior de ossos da bacia, por meio de punções, sob anestesia, e se recompõe em apenas 15 dias. Os doadores preenchem um formulário com dados pessoais e é coletada uma amostra de sangue com 5 a 10ml para testes. Estes testes determinam as características genéticas que são necessárias para a compatibilidade entre o doador e o paciente. Os dados pessoais e os resultados dos testes são armazenados em um sistema informatizado que realiza o cruzamento com dados dos pacientes que estão necessitando de um transplante. Em caso de compatibilidade com um paciente, o doador é então chamado para exames complementares e para realizar a doação. Lembre-se que uma vez no cadastro, você poderá ser chamado, se identificado como compatível com algum paciente, até os 60 anos. Para o doador, a doação será apenas um incômodo passageiro. Para o doente, será a diferença entre a vida e a morte.
Milhares de pessoas estão na fila esperando por um doador de medula óssea. A chance dos receptores encontrarem doadores com as células compatíveis é de uma em cem mil. O número de doadores voluntários tem aumentado expressivamente nos últimos anos. Em 2000, existiam apenas 12 mil inscritos. Naquele ano, dos transplantes de medula realizados, apenas 10% dos doadores eram brasileiros localizados no REDOME. Já em novembro de 2014, eram mais de 3,500 milhões de doadores inscritos e o percentual subiu para 70%. O Brasil tornou-se o terceiro maior banco de dados do gênero no mundo, ficando atrás apenas dos registros dos Estados Unidos (quase 7 milhões de doadores) e da Alemanha (quase 5 milhões de doadores).
A evolução no número de doadores ocorreu devido aos investimentos e campanhas de sensibilização da população, promovidas pelo Ministério da Saúde e órgãos vinculados, como o INCA. Essas campanhas mobilizaram hemocentros, laboratórios, ONGs, instituições públicas e privadas e a sociedade em geral. Desde a criação do REDOME, em 2000, o SUS já investiu R$ 673 milhões na identificação de doadores para transplante de medula óssea.
Como é feita a doação
Seu sangue será tipificado por exame de histocompatibilidade (HLA), que é um teste de laboratório para identificar as características genéticas que podem influenciar no transplante. Seu tipo de HLA será incluído no cadastro. Os resultados são confidenciais e servem apenas para os fins do REDOME. Seus dados serão cruzados com os dos pacientes que precisam de transplante de medula óssea constantemente. Se você for compatível com algum paciente, outros exames de sangue serão necessários. Se a compatibilidade for confirmada, você será consultado para confirmar que deseja realizar a doação. Seu atual estado de saúde será avaliado.
A doação é um procedimento que se faz em centro cirúrgico, sob anestesia peridural ou geral, e requer internação por um mínimo de 24 horas. Nos primeiros três dias após a doação pode haver desconforto localizado, de leve a moderado, que pode ser amenizado com o uso de analgésicos e medidas simples. Normalmente, os doadores retornam às suas atividades habituais depois da primeira semana.
Existe uma outra forma de obtenção das células-tronco da medula óssea, que utiliza uma máquina específica (aférese) para separar do sangue periférico (corrente sanguínea), as células necessárias para o transplante. Neste caso, o doador tem que receber um medicamento antes da doação (fator de crescimento), que estimula a medula óssea a liberar estas células para a corrente sanguínea. Esta técnica só é utilizada em casos específicos, sob decisão médica e com consentimento do doador.
A maioria das pessoas tem receio em realizar a doação de medula, mas esse medo vem da falta de conhecimento sobre o processo. Um mito bastante recorrente é que a medula é retirada da coluna e que qualquer erro médico pode deixar o doador com sequelas. Isso não é verdade, pois essa é outra medula, a Espinhal. A Medula usada em transplante é a Medula Óssea, que é tirada da parte de trás da bacia, razoavelmente longe da coluna.
Para que o doador não sinta dor, é realizada anestesia e o procedimento dura em média 60 minutos. A sensação do doador é de média a moderada intensidade e permanece por cerca de uma semana (2 a 14 dias), semelhante a uma queda ou uma injeção oleosa. Não fica cicatriz, apenas a marca de 3 a 5 furos de agulhas. É importante destacar que não é uma cirurgia, ou seja, não há corte, nem pontos. O doador fica em observação por um dia e pode retornar para sua casa no dia seguinte.
Saiba Mais
O Transplante de Medula Óssea é a única esperança de cura para muitos portadores de leucemias e outras doenças do sangue e do sistema imune. Milhares de pessoas esperam por um doador compatível de medula óssea para sobreviver. Ao doar uma amostra do seu sangue no hemocentro mais próximo, você será um possível doador, fazendo parte do Registro de Doadores Voluntários de Medula Óssea, Redome. A doação de medula óssea é um gesto de solidariedade e de amor ao próximo. O Hemocentro de Porto Alegre fica na Avenida Bento Gonçalves, 3722 – Partenon. Mais informações ligue para (51) 3336-6755.
O Brasil fez, em 2013, 1.813 transplantes de medula óssea, dos quais 1.144 foram autólogos (o paciente recebe sua própria medula, depois que ela passa por um tratamento) e 669 foram alogênicos (o paciente recebe a medula de um doador). Dos transplantes alogênicos, 220 foram não aparentados (o doador é localizado no Redome e não na família do paciente). Este último é o procedimento mais complexo, para o qual os pacientes têm de esperar mais tempo.