| Elvis Valcarenghi
Secretária Municipal de
Cachoeirinha de Planejamento
e Captação de Recursos
O título por si só já é polêmico. De pronto quero consignar que não sou inimigo de servidor público, ao contrário. Tampouco quero sequestrar direitos adquiridos das pessoa que dentro da lógica e da regra do jogo se dispuseram a empregar um enorme esforço a fim de se concursar e obter uma contratação estatutária com direito a estabilidade. Quero avaliar do ponto de vista de quem contrata. Qual cidadão, com estabilidade empregatícia ou não, contrataria um empregado para sí que não pudesse ser demitido(*)? Acredito que ninguém seria capaz de assumir com outra pessoa um compromisso pecuniário vitalício, considerando as diversas possibilidades de modificações de cenário ao longo de 25 ou 30 anos de vida operacional.
Quem tem uma longa carreira pode descrever quantas mudanças ocorrem neste período, capazes de modificar muito o cenário. O estado produz uma opressão em série, massacrando psicologicamente as pessoas que acabam permanecendo escravas do medo de não possuir mais a tal garantia de renda. “Ganha, ganha” se diz quando as duas partes lucram, mas nessa relação onde o contratante, muitas vezes remunera mal e exige pouco, e o contratado fica preso na inércia, o resultado é o perde, perde.
Tenho convivido com valorosos e dedicados servidores, exemplos de compromisso e lealdade com o povo que é o verdadeiro chefe. Em contrapartida assisto pessoas tristes trabalhando sem prazer e contando os dias para aposentadoria, cada vez mais distante em tempos de reforma previdenciária. Certas atividades profissionais vão ficando obsoletas e como é difícil, ou impossível, crescer dentro de uma corporação pública!
Num modelo gerencial básico você entra numa empresa privada como contínuo e pode chegar à presidência. No mais comum dos modelos de gestão pública o servidor entra através de um concurso para uma atividade específica e permanece nesta atividade por até 35 anos. É possível ser feliz e realizado assim? Ao longo do tempo sua capacidade laboral, produtiva, emocional permanecerá a mesma? É certo que com o passar dos anos a capacidade produtiva se reduz, contudo a capacidade gerencial aumenta a medida que a experiência dos anos lhe imputa lições e aprendizados capazes de solucionar problemas cotidianos com muita facilidade. Logo, o servidor que se concursou como escriturário poderia chegar a Diretor da escrituração com o passar dos anos. Mas esta não é a realidade. Alguns mecanismos criam uma espécie de bônus, mas via de regra funcionam mais como um aumento de salário disfarçado e nem sempre é destinado de forma objetiva, invariavelmente causando mal estar na equipe.
Argumentações a parte, parece incontroverso que o modelo se exauriu. Neste momento, já me preocupo com repercussões destas afirmativas, oriundas das más interpretações. Porém qual será o parlamentar, ministro, presidente que irá propor o debate a nível nacional para criar um modelo menos perverso? Será que as urnas aprovariam? Que o debate ocorra!
(*) Somente em circunstâncias muito específicas de difícil comprovação. Não raro as decisões administrativas são revistas pela justiça e o servidor retorna a ativa.