| Por Aline Peterson
Bacharel em Letras – Português/Inglês
Mestre em Estudos da Literatura
Todos os anos, a cerimônia de premiação do Oscar é aguardada com muita expectativa. Seja por um filme pelo qual torcemos para que ganhe o prêmio principal, seja por uma performance de um ator ou atriz que deixou o espectador maravilhado. Esperamos também quem realizará o show de abertura e quem fará aquele discurso do qual lembraremos por muito tempo. Na cerimônia deste ano, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood entregou prêmios que mostraram mudanças no modo de pensar da Academia. Muitas coisas aconteceram pela primeira vez na cerimônia de premiação do Oscar deste ano. Houve quebra de recordes e mudanças de padrões estabelecidos há muito tempo, desde a representatividade de negros e mulheres até a projeção de filmes estrangeiros. Os filmes em preto e branco também foram valorizados: havia dois concorrendo ao prêmio de Melhor Fotografia.
O prêmio de melhor diretor foi para Alfonso Cuarón, por “Roma”, filme mexicano que também ganhou o prêmio de Melhor Fotografia e de Melhor Filme Estrangeiro. Fora a polêmica por Roma ser um filme da Netflix, suas premiações foram bem recebidas. Além de ser tecnicamante impecável, traz uma história cheia de afeto e força, com uma fotografia deslumbrante que fez por merecer o prêmio recebido.
Bohemian Rhapsody, filme que traz como protagonista uma das maiores lendas da música de todos os tempos, Fred Mercury, venceu nas categorias de Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição de Som, Melhor Edição e Melhor Ator. Rami Malek, que interpretou Fred Mercury, foi merecedor do prêmio por sua atuação intensa, que nos trouxe uma performance muito bem feita.
Lady Gaga também fez história na cerimônia do Oscar. O prêmio de melhor canção original, “Shallow”, de “Nasce uma estrela”, fez com que Gaga, intérprete e compositora da música, alcançasse o Oscar de melhor canção original. Ela também foi premiada no Grammy, no Bafta e no Globo de Ouro. Ao todo, foram mais de 30 prêmios, levando a cantora ao topo da lista de canções mais premiadas da história. Além disso, ganhou o prêmio de melhor atriz, por “Nasce uma estrela”, no Critics Choices, dividindo o prêmio com Glenn Close, por sua performance em “A esposa”. Em seu discurso, ela enfatizou a importância de não desistir de um sonho, mesmo quando não acreditam no seu talento.
O principal prêmio da noite, o prêmio de Melhor Filme, foi para “Green Book”. Além dele, o filme recebeu o prêmio por mais três indicações: Melhor Roteiro Original e Melhor Ator Coadjuvante, para Mahershala Ali. O filme traz a história de dois homens: o pianista Don Shirley (Mahershala Ali) e Tony Vallelonga (Viggo Mortensen), que o acompanha como motorista e segurança em uma turnê pelo Sul dos Estados Unidos nos anos 60, durante a vigência da segregação racial. O Green Book realmente existiu, se chamava The Negro Motorist Green Book e foi publicado até 1967. Era um livro que apontava locais onde os negros eram recebidos e atendidos, já que na época as leis permitiam que muitos estabelecimentos comerciais se negassem a prestar serviços para a população negra. A premiação de Melhor Filme para Green Book conquistou aclamação, mas também algumas críticas, incluindo de Spike Lee, uma das mais conhecidas vozes negras do cinema. Segundo tais críticas, o filme, dirigido e produzido apenas por brancos, transforma o personagem branco no salvador do negro. Esse tom pacificador não é apresentado em “Infiltrado na Klan”, filme de Spike Lee que recebeu a estatueta de Melhor Roteiro Adaptado, o que pode ter traduzido, como uma mensagem um tanto antagônica da Academia.