É um hábito nada bacana e que faz parte da rotina de nove entre dez ansiosos, pode ser perigoso. A onicofagia – nome esquisito que os médicos dão para o ato de roer as unhas – pode abrir machucados que serve de porta de entrada para vírus como o HPV, causador de verrugas na pele. Tem mais. Quem engole a unha pode ter pequenas lesões no estômago ou no intestino.
Geralmente começa durante a infância ou no início da adolescência e, pelo menos, metade dos indivíduos em idade escolar apresenta o distúrbio. Para muita gente, trata-se de uma compulsão e costuma ser ignorada por pacientes e médicos, que ainda consideram o hábito inofensivo com consequências meramente estéticas — o que não é correto. Roer as unhas de maneira crônica pode causar anormalidades nos dentes, além de complicações graves, como infecções da pele, que sofrem um encurtamento irreversível.
O ato repetitivo de mordiscar as unhas — ou mesmo pontas de lápis e canetas — afeta todo um sistema que abrange ossos, músculos, nervos, vasos sanguíneos, língua e dentes. Dessa forma, vira fator de risco para disfunções na articulação temporomandibular (ATM), aquela que conecta a mandíbula ao crânio e fica logo à frente dos nossos ouvidos. Um dos principais resultados desse desgaste é a dor nos músculos da face e mesmo a de cabeça.
Zumbido, incômodos nos ouvidos, limitação de abertura da boca e dificuldade para mastigar os alimentos são alguns dos outros sintomas da disfunção temporomandibular (DTM). E todos podem ser desenvolvidos a partir desse hábito aparentemente inofensivo.
A repercussão do vício de roer as unhas na saúde bucal merece avaliação de um profissional especialista em dor orofacial e DTM. É que o diagnóstico e o tratamento da condição passam pela cadeira do dentista.
Em primeiro lugar, é preciso identificar por que o indivíduo adquiriu essa mania. Na sequência, pensar nas soluções para que ele consiga abandoná-la. No processo, pode ser indicado ao paciente medicamentos, dispositivos intraorais e placas protetoras.
Muitas vezes, o tratamento deve envolver outros profissionais de saúde, caso do psicólogo e do psiquiatra. E até mesmo professores de terapias complementares, como meditação e ioga. Esse trabalho interprofissional costuma ser determinante para a resolução do problema.
Não bastasse predispor o cidadão à DTM, o ato de roer as unhas afeta a boca de outras formas. Desgasta a superfície dos dentes, tornando-os mais frágeis e sujeitos a fraturas, por exemplo. Também aumenta o risco de reabsorção das raízes, especialmente entre quem usa aparelhos ortodônticos.
Outro aspecto importante, e que não diz respeito só à cavidade oral, é o da higiene. Ora, nem sempre as mãos e as unhas estão limpas quando a pessoa as leva à boca. E isso abre caminho ao contato com vírus e bactérias. A presença desses micro-organismos pode ocasionar até gengivite. Quanto mais cedo e rápido um vício for identificado, maiores serão as chances de que ele não perdure e prejudique a saúde.