Texto | Denise de Oliveira Milbradt | Fotos | Divulgação
Aquela dificuldade acima do normal na hora de realizar uma leitura, insistência para assistir televisão muito perto da tela, ou mesmo dispersão para realizar uma tarefa simples e agitação pode esconder um diagnóstico relacionado a problemas de visão. É preciso também observar se os olhos da criança estão seguidamente vermelhos ou se ela acusa dor na região. Isso pode sugerir a existência de um grupo de doenças como conjuntivite, uveíte e neurite óptica, o que exige tratamento imediato. Erros refrativos, olho seco e até tumores cerebrais também podem provocar dor.
Não existe um consenso de quando a criança deve ser avaliada preventivamente quanto à saúde ocular. Mas, como não é fácil cravar em casa se a criança está enxergando bem, sugere-se que a avaliação com o oftalmologista deva ocorrer a cada um ou dois anos. O exame no consultório é objetivo e as crianças não precisam necessariamente falar para serem avaliadas. Para cada idade, existem tabelas apropriadas.
O erro refrativo, que compromete a capacidade visual, está presente em 8% das crianças menores de 4 anos e em 22% das crianças com até 9 anos. Quando os erros refrativos de alto grau não são corrigidos, o mundo da criança é limitado, seu rendimento escolar prejudicado e, muitas vezes, surgem queixas de dor de cabeça e dispersão. Há repercussões também no comportamento: a miopia, quando não tratada, pode estar associada a uma personalidade introvertida. Hipermetropia e astigmatismo também podem levar a cefaleia, dispersão e pouca disposição para a leitura.
A visão é o sentido mais importante para o desenvolvimento físico e cognitivo da criança. Gestos e condutas são apreendidos quando ela observa as pessoas ao seu redor. Pensando nisso, pais, pediatras e professores devem ficar atentos ao comportamento dos pequenos, pois um prejuízo no desenvolvimento visual pode ter consequências negativas para o resto da vida.
Doenças mais comuns na infância
Criança que não enxerga não apenas vai mal na escola, como também atrapalha o seu desenvolvimento. Os distúrbios visuais mais comuns no período escolar são a miopia, a hipermetropia e o astigmatismo. A correção é feita exclusivamente com o uso de lentes, depois que o oftalmologista determina o grau em um exame detalhado. Cirurgias de correção não são inviáveis, já que o ideal é que elas sejam feitas após os 20 anos, quando o grau se estabiliza.
Outro problema relativamente frequente na infância é o estrabismo, provocado por uma espécie de desequilíbrio entre os músculos responsáveis pelo movimento do globo ocular, que força o desvio de um olho (ou de ambos) para um dos lados. Não há como prevenir, mas dá para resolver se não houver perda de tempo. Em certos casos, a correção tem que ser cirúrgica – mas, para a maioria, o uso de óculos e o de tampões já basta para alinhar o olhar.
Ao nascer, o bebê enxerga o que está a cerca de 20 centímetros de distância dele – nada além disso. E só aos 3 meses consegue focalizar o rosto de quem estiver bem próximo. Por volta dos 7 anos, com a visão totalmente desenvolvida, é hora de detectar problemas oftalmológicos. Um deles é a ambliopia ou olho preguiçoso. O cérebro deixa de captar as imagens do lado que enxerga mal e registra apenas as do mais saudável. Faça o teste em casa tapando os olhos da criança, um de cada vez. Ela ficará angustiada quando o que funciona bem está coberto. O tratamento consiste basicamente na estimulação visual.
De acordo com levantamentos do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), cerca de 20% das crianças em idade escolar apresentam algum problema de visão. Considerada a epidemia do século pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a miopia é a campeã. O uso de celulares e computadores por mais de seis horas diárias é um dos fatores responsáveis pelo agravamento dessa patologia em crianças e adolescentes.
É importante ressaltar que a Academia Americana de Pediatria (AAP), um dos órgãos referência mundial no campo da saúde infantil, orienta que o contato com qualquer tipo de tela não é recomendável a crianças menores de 18 meses. Estimativas apontam que até 2020, 28% da população será míope. Até 2050, o índice pode chegar a 51% segundo alguns oftalmologistas. O problema pode ser hereditário ou adquirido.
Sinais de alerta
– Estudantes com alguma deficiência visual costumam apertar ou esfregar os olhos com frequência, vivem com os olhos irritados, avermelhados ou lacrimejando e piscam muito ou franzem a testa para olhar à distância;
– Estas crianças podem também se queixar de tonturas, náuseas, dor de cabeça ou sensibilidade excessiva à luz;
– Crianças míopes não enxergam bem de longe e, por isso, podem evitar atividades esportivas que exijam esta habilidade;
– Crianças que andam com cuidado excessivo, esbarram ou tropeçam com facilidade também podem apresentar algum tipo de deficiência visual.
– A criança com problema visual não diagnosticado e não tratado poderá apresentar dificuldade de aprendizado e se sentir desestimulada para estudar. Crianças míopes tenderão a se isolar das brincadeiras, pois não enxergam de longe com nitidez.
Fatores de risco
• Faça a criança realizar atividades em ambientes externos diariamente, por 40 minutos, no mínimo;
• Não aproximar demais os olhos dos celulares, tablets, computadores e livros — eles devem ser mantidos a 30 cm da face, no mínimo;
• Não se debruçar sobre o objeto de leitura;
• Manter a tela do computador a 50 cm do rosto, no mínimo;
• Fazer intervalos frequentes enquanto estiver utilizando esses objetos. A cada 20 minutos, retirar o olhar deles e focalizar objetos distantes, por cerca de 20 segundos;
• Uso de tablets e celulares por crianças de 2 a 5 anos não deve ultrapassar uma hora por dia;
• As cirurgias refrativas para correção do grau são indicadas somente depois dos 18 anos, desde que a graduação já tenha estabilizado;
• Para evitar mais prejuízos à visão, a recomendação é, desde cedo, ensinar as crianças a fazerem intervalos de cinco minutos a cada hora na frente das telas;
• Reduza o brilho dos monitores. Ajuste-os procurando deixar a visibilidade agradável para a vista. Não deixe o fundo muito claro, nem muito escuro;
• Monitores de cristal líquido cansam menos a vista do que os antigos, de tubo, pois já vêm com superfície antirreflexo e melhor definição de imagens.