| Carlos Panni
Médico e escritor
Maior que todos os desastres naturais ou violências animais, o embate homem contra homem extrapola qualquer estatística. A superlotação nos presídios (mesmo multiplicados por dez ou por cem, ainda assim seriam superlotados) é uma pequena amostra da convivência desumana entre os humanos ditos “sapiens”.
Violências de toda ordem e grandeza são praticadas a cada segundo, não respeitando idosos, mulheres, crianças, trabalhadores… Lei “Maria da Penha” só foi instituída após uma infinidade de agressões contra a mulher ao longo da história… Ainda assim a barbárie continua, sendo que as ocorrências policiais são mínimas em relação ao número da violência não denunciada.
Os processos judiciais são incontáveis, as demandas, infindáveis…
Não me alongo. Todos sabemos, de sobejo, o quanto vivemos um período (longe de acabar) em que humanos se tornam irracionais. Por que?
Porque o homem- cada vez mais – vive de costas para o seu semelhante. Aliás, de semelhantes são cada vez menos. O respeito às diferenças, à diversidade, ao direito de cada um ser o dono das suas escolhas e do seu destino parece diluir-se cada vez mais, principalmente para quem quer colocar a sua vontade e a sua verdade acima de tudo e de todos.
O processo eleitoral já definiu os eleitos, mas ainda fustigam nossos ouvidos – e a nossa paciência – o rol interminável das acusações, verdadeiras ou falsas, endeusando uns, endemoninhando outros, como se humanos não fossem todos eles. As redes sociais serviram e continuam servindo muito mais para disseminar a discórdia e a maledicência que ao auspicioso recurso de fazer e manter amigos.
Casais se separam tão vertiginosamente quanto outras uniões instáveis se disseminam. Famílias se desfazem enquanto outras tentam se consolidar com o que sobrou (de esperança e de traumas) de uniões anteriores, constituindo o que hoje se define como “famílias mosaico”!
Apocalíptico?
Não!
E uma reflexão sobre o que estamos vivendo e o que – íntima e profundamente – gostaríamos de viver, a começar por nós mesmos e pelos nossos queridos.
O que se quer?
O que se quer!