| Carlos Panni
Médico e escritor
No lançamento do livro “Diferenças Reconciliáveis” de A. Christensen et All, traduzido pela psicóloga gaúcha Mara Regina S. W. Lins e Marisa Rozman, esta frase de Andrew Boy, referente à escolha afetiva, chamou a atenção. “Este (você) é o problema que eu quero ter” é o tipo de “cantada” nada convencional. Há outra também interessante e que foge ao habitual: “Vamos juntar nossas cicatrizes?”.
Parecem nada românticas, mas encerram um profundo conteúdo de verdade. Reflexão e interpretação fundamental para quem quer viver a relação equilibrando razão e coração.
Quando alguém escolhe alguém para conviver está, implícita ou explicitamente, aceitando o outro/problema, assim como suas dores e cicatrizes. De igual forma está sendo aceito como eu/problema com as próprias dores e cicatrizes.
Nada românticas, de fato, mas muito esclarecedoras e que podem embasar relacionamentos maduros e duradouros. É certo que cada um é cada um com seus dons, virtudes, hábitos, valores, problemas e cicatrizes. Obviamente, não por uma medida premeditada, mas o que é bom salta aos olhos dos apaixonados. Doces e flores costumam enfeitar e adocicar as relações até que a convivência comece a revelar outras características do escolhido. Fica, então, evidente que, afinal: “Este é o problema que eu quero ter”.
Por isso “Diferenças Reconciliáveis” é um livro muito prático, e ao mesmo tempo profundo, que versa sobre as diferenças de cada um e o quanto elas precisam ser reinterpretadas e aceitas para se tornarem reconciliáveis. Mesmo parecendo “chocantes”, estas duas frases alertam para a necessidade de se olhar a relação, sobretudo marital, sob a ótica de o escolhido ser imperfeito, como imperfeito é quem o escolheu também. Toda convivência (seja ela qual for) é um desafio de compreensão, aceitação, mudança e crescimento. Mudanças, primordialmente, a partir de si mesmo… rever os próprios conceitos, preconceitos, hábitos, costumes e valores… polir a própria pedra bruta…
Haverá problemas e cicatrizes de ambos os lados e cabe a ambos entenderem, respeitarem e estimularem – as próprias mudanças – para uma convivência gratificante, edificante e amorosa.
É o que se quer!