| Carlos Panni
Médico e escritor
Que afirmação estranha, me pareceu, quando ouvi esta frase pela primeira vez! Muito contundente, muito abrangente, pensei.
Será mesmo?
Pensando melhor, de fato, de perto – ninguém é normal.
Enquanto conhecemos as pessoas superficialmente (ou a nós mesmos), podemos acreditar que tudo está, mental e emocionalmente, na mais perfeita normalidade.
Quando nos aproximamos um pouco mais e passamos a conviver, as anormalidades começam a aparecer. Podem ser pequenas alterações de humor, uma irritação inesperada, uma intolerância frente a alguma coisa perfeitamente tolerável, no outro ou em nós mesmos, assim como arroubos de raiva, crises de medo, inibição, vergonha, constrangimento sem motivo justificável…
Em suma, todos nós, independente de berço, cultura, credo ou o que quer que nos torna indivíduos únicos, temos nossas “anormalidades”. Uso as aspas para esclarecer que não estou falando de “loucura” no sentido mais profundo e estigmatizado. Falo daquelas crenças, informações e deformações na estrutura do nosso temperamento, caráter, personalidade, resiliência e tantas outras maneiras de ver, viver e conviver. Lá na raiz estão os traumas, carências, abusos, frustrações ou presunções e tantas outras cicatrizes que ainda doem e nos fazem seres “anormais”.
Pois é. E agora, o que fazer?
Inicialmente, aceitarmos que ninguém é normal. Esta é a regra geral e imutável. Modificável – sim, imutável – não! Não há como entrarmos em uma “máquina depuradora” e sairmos perfeitos do outro lado. Acredito que nem a morte possa fazer tal milagre. Contudo, modificar, sim, podemos e este é o desafio.
Impõe-se a pergunta: – O que preciso mudar para melhorar? Como realizar tal proeza?
Perdoar e perdoar-se pelas tolices cometidas, aceitando que são motivadas muito mais pelos nossos conteúdos obscuros do inconsciente (onde estão guardadas as maiores mazelas) do que pela nossa “sã e vã” vontade.
Não julgar é outro princípio fundamental para não colocarmos rótulos e discriminações só porque as “as anormalidades” do outro são diferentes das nossas.
Precisamos entender as “anormalidades” nossas e as dos outros para tolerar, no que for possível, e permitir uma convivência o mais pacífica e gratificante possível.
Este é o desfio!!!