Textos e Fotos | Denise de Oliveira Milbradt |
Eles passaram dos 50 anos faz um tempão, curtem os netos e já estão aposentados, depois de uma longa trajetória profissional. Mas optaram por não parar. Este comportamento tem chamado à atenção de alguns segmentos do mercado de trabalho, que tem apostado na terceira idade para compor suas equipes. Dentre os itens considerados neste perfil estão os altos índices de produtividade e comprometimento. Em Cachoeirinha dois supermercados investem alto neste tipo de mão de obra, considerando-a, inclusive, altamente rentável. Nada de choque de gerações, mas sim uma lição de vida.
De acordo com levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no último ano, o Brasil possui 4,5 milhões de idosos empregados. Entre os benefícios atribuídos ao idoso está a motivação, que estimula outros membros da equipe, e a troca de experiências com os mais jovens. Esses profissionais normalmente são mais pacientes e observadores, e sabem contornar situações críticas. Além disso, a ocupação é positiva para a saúde do idoso ao favorecer sua autoestima, um dos ingredientes indispensáveis para o envelhecimento saudável e ativo.
Com uma total de 107 funcionários, o Asun localizado no centro de Cachoeirinha conta com cinco colaboradores acima dos 60 anos e outros dez entre 55 e 60 anos. Segundo o gerente Ademar Ambrosini, 57 anos, eles são trabalhadores diferenciados e comprometidos. Como não pesa tanto a cobrança financeira e por estarem próximo de casa ou já estarem aposentados conseguem exercer suas funções com mais equilíbrio emocional. Diferente do jovem que vem acelerado pela avalanche de informações e vive o tempo inteiro conectado. Sem falar nas pressões impostas pela sociedade moderna, que obriga que todos sejam bem sucedidos em todas as instâncias. “Mas aqui não existe choque de gerações. No dia a dia acabam se ajudando e aprendendo o tempo inteiro”, destaca.
Ademar, que também já é aposentado, não pensa em descansar tão cedo. “Gosto de me sentir útil, só o farei em caso de limitação imposta pela saúde”, adianta. Para o gerente do Rissul de Cachoeirinha, Tarciso Rodrigues um dos grandes diferenciais de ter um colaborador na melhor idade é a proatividade, que acaba inspirando toda a equipe. Eles também se destacam pela criação de vínculos afetivos e dão exemplo de inteligência emocional. Do total de 94 funcionários, hoje a loja tem cerca de dez pessoas no quadro acima dos 50 anos. “No dia a dia não percebo diferença entre um jovem e o que já se encontra na terceira idade. Um complementa o outro. A experiência deles é positiva e sempre são bem-vindos na nossa empresa”, recomenda.
Sem medo de ser feliz
Há 16 anos a rotina de Antônio José Homem, 72 anos é a mesma: acorda antes das 5 horas da manhã e pega o ônibus às 6 horas. Começa a trabalhar às 6h30 no Rissul de Cachoeirinha, onde exerce a função de serviços gerais. Morador de Gravataí, é viúvo e tem um casal de filhos e oito netos. Para ele, o trabalho é mais uma diversão do que obrigação e orgulha-se de nunca ter faltado ou ser advertido por algo errado que tenha feito. “Tudo o que faço é com carinho”, relata.
Uma importante liderança no Asun é Maria Antônia Imperador, 66 anos, encarregada de frente de caixa. Desde 1988 na empresa, trabalha das 11 horas às 22 horas de segunda a segunda, com apenas uma folga durante a semana. Nem a intensa jornada e os sete anos de aposentadoria impedem o brilho nos olhos. “É bom estar em contato com as pessoas. Trabalhando não tenho tempo de pensar bobagem. Faço isso por mim, pois não tenho necessidade financeira, preciso me sentir feliz e útil”, fala.
Outro exemplo de determinação é a auxiliar de confeitaria, Eva Pedrozo Coelho, que aos 67 anos acumula 22 anos na mesma rede de supermercados, destes 12 só em Cachoeirinha. Antes, porém, atuou em algumas indústrias. “Gosto de estar no trabalho, sinto-me alegre e feliz”, elogia.
Aposentada há seis anos como técnica de enfermagem, Leila Rejane Menezes, 65 anos buscou uma nova oportunidade profissional no mercado e lá permanece desde então. Diz-se muito grata com o carinho dos colegas e aproveita os raros momentos de folga para ler e assistir televisão. Mas, durante a semana, ela também vive os seus momentos de avó. Tem um casal de filhos e duas netas. A mais nova busca na escola, que fica próxima ao seu local de trabalho, e é responsável por ela até a noite.
Tereza Outero da Silva, 60 anos é encarregada de padaria e há 13 anos trabalha no Rissul de Cachoeirinha, porém tem quase 20 anos de empresa. Ela acorda 4h20, pois mora em Porto Alegre e só então depois de pegar dois ônibus chega ao seu destino. Começa às 6 horas e nunca soube o que é ficar desempregada, já que sempre trabalhou na mesma empresa, que foi sendo vendida ao longo dos anos.
Enquanto, Clarice Moura da Silva, 60 anos, atendente de padaria, trabalha há sete anos no mesmo local, mas está aposentada desde maio de 2017. Mora em Cachoeirinha e trabalha das 7h30 às 16h20. Ainda assim não pensa em parar, gosta do que faz e da convivência com os colegas. Casada há 39 anos, o marido também é aposentado e é dele a responsabilidade de cuidar da casa.
Com 24 anos de empresa e, às vésperas de se aposentar, a cozinheira Eva Terezinha Dias aos 59 anos planeja diminuir o ritmo apesar de gostar muito do que faz. A arte de cozinhar aprendeu com a mãe e fez disso uma profissão bem sucedida. Tem dois filhos e pensa em ajudá-los na criação dos netos. Além disso, admite a necessidade de cuidar um pouco mais da sua saúde. “Não sei se vou conseguir parar, pois desde muito jovem já trabalhava”, frisa.
Ângela Beatriz Roggia Dorneles, 58 anos, é caixa operadora há dois anos na mesma empresa. Com aposentadoria prevista para 2019, hoje ela levanta todos os dias às 5 horas para deixar as coisas em casa em ordem. Mora com os dois filhos e o marido, que é casada há 33 anos. Sempre trabalhou em supermercado e não pensa em parar, pois gosta do contato com as pessoas. “Não tenho problemas em trabalhar com os jovens, mas os interesses são diferentes. É um novo momento”, lembra.
Voltando a sorrir
Solange Rodrigues Carvalho, 51 anos, operadora de caixa, em julho completa cinco anos de empresa, mas já exerceu diversas funções em outros segmentos. Foi até auxiliar de cozinha em uma escola, contudo foi a morte do marido que a fez voltar ao mercado de trabalho. Na época precisava ocupar a mente para vencer a dor e recebeu o carinho dos colegas. Chegava a pedir para fazer longas jornadas de trabalho e hoje, apesar de mais tranquila, não pensa em parar. Ficar em casa, definitivamente, não está nos seus planos.
Nara Tereza Hoisler Moraes, 50 anos, exerce a função de balconista de padaria e está há mais de seis anos na mesma empresa. Ele lembra que começou a vida profissional como auxiliar de fisioterapia e depois cuidadora de idoso. A oportunidade veio com a habilidade de lidar com pessoas e, ainda que falte pouco para a aposentadoria, não se imagina parada. “Sou uma pessoa agitada e adoro o contato com o público. Ficar em casa não é para mim”, salienta.
De mãe para filha
Há 13 anos na empresa e, faltando um ano para aposentar-se, Helena Maria Silva dos Passos, 58 anos, balconista de padaria, lembra as circunstâncias que a fizeram dedicar-se tanto ao trabalho. Separada e com três filhas pequenas na época, foi o trabalho que a fez se reerguer. A dedicação inspirou também as filhas, tanto que hoje uma delas é sua colega de empresa. “As filhas querem que eu descanse um pouco quando eu me aposentar, mas não sei se vou conseguir. Sempre fui dedicada ao trabalho e faço o meu melhor”. Ela trabalha das 8h às 16h e mora em Gravataí.