| Rosane Castro
Escritora e Narradora de Histórias
Existem histórias que marcam a nossa vida. Já aconteceu com você? Ler um conto que te proporciona relacionar com alguma história vivida ou com a história de alguém que você conheça? Comigo é muito comum.
Morávamos, eu e minha mãe, numa casa pequena de cor azul anil que parecia um pedaço do céu na terra. Havia um jardim com roseiras amarelas e vermelhas e uma seringueira que abrigava minhas aventuras de criança.
Numa tarde de verão, o sol forte me impedia de brincar no pátio. Fiquei sentada na área olhando para a rua. Foi quando apareceu no portão um homem em vestes simples e com um saco de linhagem. Ambos muito sujos. Lembro bem.
Ele pediu a minha mãe algo para comer.
Prontamente, ela abriu o portão e a porta da casa. Convidou-o para sentar no sofá da sala e lhe ofereceu um prato robusto de comida, ainda quente, do almoço.
Fiquei espantada com a rapidez com que ele devorou aquele alimento. Agradeceu e, antes de sair, recebeu um embrulho. Era um lanchinho para comer mais tarde.
Com apenas quatro anos, não conseguia entender a magnitude daquele gesto. Fui compreender muito tempo depois. Muito mesmo. Mas aquela história nunca saiu da minha memória afetiva.
Lendo o conto Sufi “Distinguindo o bom do mau”, automaticamente, recordei-me dessa história da minha infância.
Ler é um ótimo alimento para a alma, assim como, para nos fazer refletir sobre a vida.
“Um padeiro queria conhecer Uways e este foi à padaria. Disfarçado de mendigo pegou um pão, começou a comê-lo. O padeiro o espancou e o atirou na rua.
– Louco! – disse um discípulo que chegava – Não vê que expulsou o mestre que queria conhecer?
Arrependido, o padeiro foi até a rua e perguntou o que podia fazer para que o perdoasse. Uways pediu que convidasse a ele e a seus discípulos para comer.
O padeiro os levou até um ótimo restaurante e pediu os pratos mais caros.
– Assim distinguimos o homem bom do homem mau – disse Uways para os discípulos. Este padeiro é capaz de gastar dez moedas de ouro num banquete porque sou célebre, mas é incapaz de dar um pão para alimentar um mendigo com fome”.
Autor desconhecido