| Saul M. Sastre
Professor, consultor e palestrante
Quando o filósofo Canadense Marshal McLuhan conheceu a televisão em 1964, previu no seu livro Aldeia Global, que o progresso tecnológico iria reduzir o planeta a mesma situação que ocorre em uma aldeia, com todas as pessoas falando da vida dos outros. Acertou na previsão, todavia o aparelho evoluiu. Por enquanto, o grande instrumento globalizador é o smartphone, mas já sabemos que outros, como os Bots (robôs virtuais), ou o que ainda nem conhecemos, estão vindo por aí, reduzindo ainda mais as distâncias na Terra.
O progresso tecnológico chegou de fato a partir de 1990, quando a Internet começou a se popularizar. Antes disso, passávamos dias, semanas, ou meses sem saber nada de ninguém. Tínhamos menos atividades, o que fazia com que os dias e horas se arrastassem, permitindo digerir calmamente as notícias boas e ruins, cujas fontes eram de visitas que chegavam sem avisar, ou quando muito telefonemas.
O lado “A” da tecnologia, trouxe uma vida mais farta de informações, nos tornando conectados, ultra conectados. Os Smartphones conseguiram derrubar as barreiras geográficas. Através deles e da rede mundial tornou-se possível se comunicar, de maneira fácil, em tempo real com qualquer pessoa do planeta.Com as redes sociais, conquistamos a onipresença virtual, fazendo a mágica de estar em vários lugares ao mesmo tempo, interagindo com parentes, amigos, colegas de trabalho.
Recebemos mensagens de amigos e rede de amigos através de aplicativos. Criamos grupos com familiares, ex-familiares, colegas de escola, faculdade, especialização e daquela viagem que fizemos há três anos atrás. E quando as mensagens não chegam, vamos bisbilhotar em outra rede social a vida de todo mundo para saber o que estão fazendo.
Com isso, recebemos convites para variados tipos de eventos, juntamente com mais e mais compromissos, que muitas vezes nem são reais, apenas virtuais. Com tantas agendas a serem cumpridas, o tempo para si mesmo ficou escasso.
A informação da vida de todos, que antes chegava de conta-gotas, agora começa a vir de caminhão pipa, não nos dando chances de absorver o que está acontecendo, aflorando as mais variadas emoções de minuto a minuto. Oscilamos da alegria à tristeza, dependendo da mensagem ou notícia que recebemos e com isso criamos padrões comportamentais para atender a expectativa das outras pessoas.
O lado B da tecnologia trouxe a desconexão com nós mesmos. Apenas vivemos com o piloto automático correndo para todas as direções. A conexão externa, ou o excesso dela, nos desconectou internamente, nos transformando em seres sem vontade própria, que apenas seguem um padrão comum que diz o que devemos fazer, ter e ser. O resultado é um vazio existencial, traduzido pelo viver para sobreviver sem propósitos.
A espiritualidade surge como a grande questão e as perguntas: porque nasci? O que quero fazer da minha vida? O que são valores significativos para mim? Começam a ganhar sentido.