Texto | Denise de Oliveira Milbradt | Fotos | Divulgação
Falar de suicídio, até bem pouco tempo, era tabu. Ignorado por grande parte da sociedade, o problema acabava sendo colocado ‘embaixo do tapete’ ou optando-se por culpar a família por negligência. Ainda hoje é alvo de piada ou associado a patologias supérfluas, tais como preguiça, falta de educação, dentre outros. Mas, diante de uma epidemia mundial, o assunto tornou-se pauta obrigatória na área da saúde. Não é para menos, pois todos os anos cerca de um milhão de pessoas tiram sua própria vida no mundo, o que representa uma morte a cada 40 segundos de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, a Região Sul concentrou 25% dos casos, entre 2010 e 2015. Todavia, o RS têm as taxas mais elevadas.
De difícil diagnóstico, a identificação de um candidato suicida requer a análise das muitas causas que o levaram a tal decisão. Diversos estudos dão conta que a opção deve-se ao desejo intenso de livrar-se de um sofrimento para o qual não encontra saída. Mas, antes do ato final, mostra sinais e procura ajuda para esclarecer o que está sentindo. É neste momento que o desfecho final pode ser positivo ou não.
Identificar as situações de vulnerabilidade da pessoa que pensa em cometer suicídio é de extrema importância para evitar o pior. Na lista estão doenças graves; isolamento social; ansiedade; desesperança; crise conjugal e familiar; luto; perda ou problemas no emprego; transtornos mentais, como uso abusivo de álcool e outras drogas, depressão, esquizofrenia entre outros associados à facilidade de acesso aos meios de suicídio. Os públicos mais vulneráveis são os idosos e os jovens. Nos idosos, a solidão, a perda dos vínculos, os maus-tratos, o abandono constituem fatores importantes. Os jovens também se apresentam como grupo de risco, com taxas cada vez mais elevadas de suicídio.
A melhor maneira de descobrir se a pessoa tem pensamentos de suicídio é perguntando a ela. Falar sobre o tema não fará com que a pessoa decida se matar, pelo contrário, dará a ela a oportunidade de falar sobre seus sentimentos, refletir e, possivelmente, mudar de ideia. Se você não se sentir seguro para tal atitude, peça a ajuda de um profissional da área da saúde mental. Estes profissionais têm importante papel nas situações de suicídio uma vez que os transtornos mentais estão associados à maioria dos casos. O Centro de Atenção Psicossocial – CAPS é o local de referência para o encaminhamento e acompanhamento dos pacientes com transtornos graves.
Atendendo amigos e familiares
O psiquiatra, coordenador do Centro de Promoção da Vida e Prevenção ao Suicídio do Hospital Mãe de Deus, Ricardo Nogueira lembra que o suicídio é sempre uma experiência extremamente traumática para os amigos e familiares. Além dos sentimentos de mágoa, normalmente associados com a morte da pessoa, podem existir sentimentos de culpa, cólera, ressentimento, remorso, dúvidas e grande angústia acerca de situações não esclarecidas.
Os familiares ou amigos de vitimas, segundo o especialista, podem e devem procurar ajuda nos “grupos de sobrevivência”, onde encontrarão pessoas com os mesmos problemas e experiências semelhantes, além de não correrem o risco de serem julgados e ou condenados. Nestes grupos são assistidos por psicólogos, psiquiatras, médicos, assim como recebem atendimento religioso e jurídico.
Trabalho nas escolas
A prevenção do suicídio e a promoção da qualidade de vida deveriam fazer parte do projeto político pedagógico das escolas, devendo ser trabalhado por profissionais capacitados para esse debate com os professores e com os alunos. Pesquisas nacionais e internacionais têm mostrado que essas ações possibilitam a redução do número de suicídios, principalmente a partir da conscientização dos jovens sobre o tema.
CAPS
Cachoeirinha – Rua Aparício Soares da Cunha, nº 128 – Bairro Bom Princípio. Fone: (51) 3041-6027. Atendimento de segunda a sexta-feira das 8h às 18h.
Gravataí – Rua Santa Fé, 249 – Bairro Santa Fé. Fone: (51) 3421-5060. Atendimento de segunda a sexta das 8h às 18h.
Centro de Valorização da Vida (CVV)
Para quem está procurando ajuda, o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio online no site http://www.cvv.org.br, pelo telefone 188, via Skype (acesso pelo site), ou e-mail (mensagem enviada também pelo site). Em todos os canais, o atendimento é feito por voluntários treinados e a conversa é anônima, com sigilo completo sobre tudo que for dito.
Desde 2015, o Ministério da Saúde e o CVV firmaram parceria para realizar apoio emocional e prevenção do suicídio. O atendimento é prestado por voluntários e gratuitamente para todas as pessoas que desejarem conversar de forma sigilosa. O serviço funciona durante 24 horas e todos os dias.
Além do Rio Grande do Sul, desde 1º de outubro, pessoas de mais oito Estados poderão ligar gratuitamente para o serviço: Acre, Amapá, Mato Grosso do Sul, Piauí, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Rondônia e Roraima. Até 2020 todo o território nacional poderá contar com o atendimento.