| Carlos Panni
Médico e escritor
Se nos remetermos ao Gênesis – o Primeiro Livro do Antigo Testamento – vamos constatar, mesmo que simbolicamente, que desde lá começam as lutas entre o bem e o mal e as suas consequências: o paraíso versus a degradação terrena. A seguir Caim matou Abel e as disputas continuam até hoje e, se o crime não compensa, a paz está sendo cada vez mais vilipendiada e distante.
Os seres humanos começam a existência terrena tão puros como originariamente, Adão e Eva. Não têm máculas, traumas… são inocentes…
No entanto, conforme crescem, vão acrescentando toda sorte de malformações e deformações no seu caráter e na sua personalidade.
E quem às faz maculadas, marcadas, sofridas? Quem lhes deserda do paraíso e às condena aos sofrimentos terrenos?
Nós as deserdamos! Nós as maculamos e as expulsamos do paraíso da perfeição e da inocência!
Passamos, de pais para filhos, um legado de brutalidades advindas da ignorância e da maldade dos tempos.
Nem sempre o adulto se dá conta de que o grande desafio da vida é promover a transmutação do mal que recebemos para o bem que podemos legar à posteridade. Este é, de fato, o maior dos desafios.
Está em nossas mãos o quebrar paradigmas, normas obsoletas, tabus, preconceitos, sanar carências e abandonos.
Se a tecnologia tem avançado e aperfeiçoado em termos exponenciais, como anda o avanço da “tecnologia” vivencial e relacional conosco mesmos, com os outros, com a natureza e com o G.A.D.U.?
A tecnologia raramente repete erros. Nós continuamos repetindo-os geração após geração.
E o que fazer? Por onde começar?
Conta a história que um pai, querendo que o filho o deixasse trabalhar, recortou um grande “mapa mundi” em muitos pedaços, misturou-os e deu ao filho para reconstruir o “quebra-cabeça”. Esperava que a criança demorasse horas para consegui-lo. No entanto, menos de uma hora depois o garoto lhe entregou o mapa perfeito.
Como conseguiste, tão rápido, reconstruir um mapa tão complexo, perguntou o pai?
Fácil, disse o menino. Enquanto o senhor recortava o mapa, percebi que do outro lado havia a figura de um homem. Então, foi mais fácil reconstruir o homem, e a partir dele, reconstruí o mundo.
Eis aí o trabalho do Maçom!
Reconstruir-se para reconstruir o mundo!
Desbastar impurezas, retificar arestas, retirar imperfeições incrustradas na infância ou através dos milênios ou, talvez, de vidas passadas…
Polindo a “Pedra Bruta”, reconstruir o homem para reconstruir o mundo!
Esta é a tarefa, este é o desafio!