Texto | Denise de Oliveira Milbradt |
Crianças e adolescentes agitados, com dificuldades de concentração e aprendizagem em sala de aula é uma reclamação constante nos ambientes escolares. Em busca de respostas e soluções rápidas, muitos pais têm recorrido à ajuda de profissionais voltados para o tratamento da saúde mental. Mas, a precipitação de um diagnóstico faz com que muitos jovens tenham que viver medicados erroneamente. Felizmente, novas testagens médicas possibilitam a adequada identificação do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), exigindo o trabalho de uma equipe multidisciplinar composta por psiquiatras, psicólogos, psicopedagogos e, em alguns casos, também de um neurologista.
O TDAH é um transtorno de “base orgânica”, associado a uma disfunção em áreas do córtex cerebral, conhecida como Lobo Pré-Frontal. Quando seu funcionamento está comprometido, ocorrem os sintomas de déficit de atenção, hiperatividade e impulsividade. Normalmente, em atividades como estudo, leitura ou outras que exijam concentração, o cérebro aumenta os níveis de ativação, justamente para dar conta das exigências.
A probabilidade do TDAH se manifestar ou não, bem como a intensidade dos sintomas tem relação direta com as experiências pessoais e o estilo de vida. Por exemplo, pessoas que tenham passado a infância numa família muito desorganizada, sem rotinas e hábitos regulares; que não tenham sido adequadamente supervisionadas quando crianças ao fazer as tarefas escolares ou que, quando adultos, tenham por hábito fazer muitas coisas ao mesmo tempo, provavelmente terão problemas em conseguir realizar suas atividades até o final, mantendo-se concentradas e focadas em seus objetivos. Caso alguém com esta história de vida, ao mesmo tempo, sofra também com as fragilidades biológicas do TDAH, suas dificuldades serão ainda maiores.
Para a psicóloga Andressa Brogni o diagnóstico correto é uma das grandes preocupações da área médica, pois o índice de equívocos na identificação do Transtorno é elevado. Geralmente, os primeiros sintomas surgem quando a criança inicia a fase escolar. É o professor quem vai solicitar a investigação aos pais, que recorrem ao psiquiatra para medicá-la. Mas, a especialista ressalta a importância de uma terapia em conjunto com outras áreas para sua efetividade. A começar pela criação de uma rotina familiar para que o paciente consiga cumprir os seus compromissos diários. Depois, a ajuda de um psicopedagogo será indispensável a fim de auxiliá-lo nas dificuldades de aprendizagem.
O psicopedagogo Felipe Ramos explica que são oferecidas técnicas para que a criança aprenda a autorregular o foco atencional e a lidar com as múltiplas distrações em sala de aula. O processo intitulado de Metagocnição também é importante para o paciente perceba suas limitações e saiba lidar positivamente com ela no dia a dia, criando estratégias diferenciadas de estudo, por exemplo. “Não oferecemos reforço escolar, mas sim ferramentas para sanar os problemas de aprendizagem com o objetivo de ajudar o paciente a criar suas próprias estratégias de adaptações ao ambiente escolar”, detalha.
Identificando o Transtorno
Conforme o Diagnóstico de Transtornos Psiquiátricos (DSMS), revisado há três anos e que serve como fonte de pesquisa para o diagnóstico de várias patologias mentais, os sintomas do TDAH podem se manifestar até os 12 anos de idade, aliando-se a fragilidade orgânica e ao fator genético. Conforme a psicóloga, os sintomas da criança, como a agitação anormal para a sua faixa etária, precisa permanecer durante seis meses ininterruptos. “São muitos os motivos que podem levar a criança a mudar bruscamente de comportamento, tais como mudança de rotina, separação dos pais e outros eventos de origem traumática, que precisam ser investigados”, frisa.
A criança com TDAH também costuma ter muitas manchas roxas pelo corpo em função do comportamento agitado e, assim, aumentar a probabilidade de pequenos acidentes. Além disso, tem dificuldades de relacionamento com os colegas de aula, é de difícil socialização também em outros ambientes e muito impulsiva. Ainda costuma fazer muito barulho por onde passa, realiza movimentos repetitivos e tem dificuldades para se manter sentada por um curto espaço de tempo.
Já o psicopedagogo ressalta a importância do tratamento, que deve contar com o apoio da família, uma vez que pode trazer consequências irreversíveis para a sua vida adulta. “Ele terá dificuldades de manter relações duradouras, conseguir um emprego, desenvolverá ansiedade e, em alguns casos, até depressão”, completa.
Sintomas da desatenção
• Deixar de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em atividades escolares, de trabalho ou durante outras atividades
• Ter dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas
• Não escutar quando lhe dirigem a palavra
• Não seguir instruções e não termina deveres de casa, tarefas domésticas ou tarefas no local de trabalho
• Ter dificuldade para organizar tarefas e atividades
• Evitar, não gostar ou relutar em se envolver em tarefas que exijam esforço mental prolongado (tarefas escolares, deveres de casa, preparo de relatórios etc.)
• Perder objetos necessários às tarefas ou atividades
• Ser facilmente distraído por estímulos externos (para adolescentes mais velhos e adultos pode incluir pensamentos não relacionados)
• Ser esquecido em relação a atividades cotidianas.
Sintomas de hiperatividade
• Remexer ou batucar mãos e pés
• Levantar da cadeira em sala de aula ou outras situações nas quais se espera que permaneça sentado (sala de aula, escritório, etc.)
• Correr ou subir nas coisas, em situações onde isso é inapropriado
• Ser incapaz de brincar ou se envolver em atividades de lazer calmamente
• Não conseguir ou se sentir confortável em ficar parado por muito tempo
• Falar demais
• Não conseguir aguardar a vez de falar, respondendo uma pergunta antes que seja terminada ou completando a frase dos outros
• Interrompe ou se intrometer em conversas e atividades, tentar assumir o controle do que os outros estão fazendo ou usar coisas dos outros sem pedir.