| Eveline Juswiak
Psicóloga – CRP 07/20725
No final do mês de abril, um assunto muito falado e debatido foi o suicídio. Tudo isso em decorrência da grande audiência do seriado produzido pela Netflix “13 Reasons Why”, que traz a história de uma adolescente que cometeu suicídio, e a história decorre sobre os motivos que a levaram à isso. Outro motivador desse debate foi o “jogo da Baleia Azul”, que já levou vários adolescentes ao suicídio. O jogo é composto de 50 desafios, que muitos já colocam em risco a vida, sendo o suicídio o último desafio a ser cumprido, e usa as redes sociais para alcançar adolescentes e até crianças, prendendo-as ao jogo por ameaças caso haja desistência ou não cumprimento de alguma das tarefas.
Feita essa contextualização dos motivos que levaram à essa maior discussão, precisamos entender que apesar desse assunto ter vindo a tona neste momento, há um número crescente de tentativas e mortes por suicídio em adolescentes, sendo um dos principais motivos de morte nessa faixa etária. Mas quais os motivos reais para isso? Quando uma pessoa realmente corre esse risco?
Acho que é importante não definir apenas uma forma de se comportar, como se fosse um padrão apenas, mas podemos pensar em algumas características para estarmos atentos:
– Impulsividade: a dificuldade de controlar impulsos por representar um risco bem importante, afinal o suicídio é um tipo de impulso. Então pessoas que se comportam de maneira muito impulsiva, são pessoas que agem na “onda” da emoção, ou seja, são levadas pelo o que estão sentindo naquele momento. E desesperança, desespero, vazio, vontade de morrer, são sentimentos que podem levar ao impulso do suicídio.
– Falta de planos e interesses: pessoas com risco de suicídio normalmente vão perdendo o interesse em coisas que antes traziam prazer. É como se a vida perdesse o sentido, por isso as atividades também perdem o sentido, junto com isso também se perdem os motivos de fazer planos.
– Falta de significado e valores: quando falamos disso, estamos falando de coisas que impulsionam e motivam a viver. Ter coisas e pessoas importantes na vida auxilia na contenção desse impulso. Muitas pessoas deixam de cometer o suicídio, pois pensam no sofrimento das pessoas que são importantes.
A construção de significado e valores na vida vem pela convivência e experiência com outras pessoas. Se pensarmos nas crianças e adolescentes, isso se baseia muito na relação familiar. Ter relações significativas pode ser uma forma de prevenir o suicídio. Poder falar de sentimentos, dificuldades, é uma forma de estabelecer essa relação.
Mas para falar sobre emoções de maneira profunda, para estabelecer uma relação de intimidade é preciso investir tempo, talvez hoje um dos investimentos que temos feito muito pouco. Ter conversas profundas requer investimento e validação, ou seja, acolher o que o outro está abrindo e confiando à mim. Muitas vezes não sabemos lidar com o sofrimento do outro, mas se tivermos em mente que nem sempre precisamos dar respostas e soluções, e apenas tentar compreender, isso melhora muito e auxilia no estabelecimento de uma relação de confiança.
Todos temos direito de sofrer, tendo motivos ou não, até porque as emoções são naturais, e o que menos precisamos é fingir que a vida é perfeita. Acolha, e esteja atento ao sofrimento do outro. O teu acolhimento é muito importante, e muitas vezes define a decisão de alguém de continuar ou não vivendo. Mas lembre-se: não carregue tudo sozinho! A ajuda de um profissional é de grande importância nesses momentos, e pode auxiliar em uma recuperação mais rápida.