| Por Aline Peterson
Professora de Inglês e Português e
Mestre na área de Literatura Comparada
A noite de premiações do Oscar 2017, que aconteceu no dia 26 de fevereiro, teve momentos consagrados. Algumas premiações já eram aguardadas. Outras, no entanto, foram um tanto imprevistas. O maior exemplo disso foi o grande prêmio do ano, o de melhor filme.
Os filmes indicados eram grandes obras cinematográficas, mas grande parte do público já esperava que a premiação fosse para La La Land, do diretor Damien Chazelle, e foi. Mas não por muito tempo. No momento da divulgação do prêmio de melhor filme, Warren Beatty e Faye Dunaway, que anunciaram o prêmio, haviam recebido o envelope errado. Entretanto, só após parte do elenco subir ao palco, discursar e agradecer aos familiares, amigos, e colegas, é que o erro fui comunicado ao público, por Jordan Horowitz, produtor de La La Land. O grande vencedor era, na verdade, Moonlight, do diretor Barry Jenkins, que ficou conhecido pelo filme Medicine for Melancholy.
A notícia foi recebida por todos com certa comoção, e poucos pareciam acreditar no que estava acontecendo. Moonlight, que mostra a trajetória de um garoto negro em uma periferia de Miami, que enfrenta desafios relacionados a sua raça e sua sexualidade, e que foi recusado por muitas pessoas, incluindo atores, porque, segundo eles, o filme estragaria suas carreiras, mereceu o grande prêmio da noite. É realmente um filme espetacular, que deve ficar na história, não por fazer parte da maior gafe da grande noite do cinema, mas por ter sido um filme de baixíssimo orçamento, que fala da história de negros sem trazer um estereótipo.
O filme também recebeu os prêmios de melhor ator coadjuvante (Mahershala Ali) e de melhor roteiro adaptado. Ainda assim, La La Land, que foi indicado em 13 categorias, foi o filme que recebeu o maior número de estatuetas, sendo elas a de melhor atriz (Emma Stone); a de melhor diretor (Damien Chazelle), que, com 32 anos de idade, se tornou o mais jovem diretor ao levar o prêmio; melhor canção original (City of Stars); melhor trilha sonora; melhor fotografia (Linus Sandgren) e melhor design de produção.
Além da gafe astronômica em relação ao prêmio de melhor filme, também aconteceram alguns outros episódios que causaram certo desconforto. A indicação de Cassey Affleck ao prêmio de melhor ator por si só já era um incômodo, já que ele foi alvo de acusações de abuso sexual. Ao receber o prêmio, por esse motivo e também pelo público esperar que Denzel Washington o ganhasse, o desconforto pareceu se agravar. Nem mesmo Cassey Affleck parecia esperar levar a estatueta, já que seu discurso de agradecimento foi considerado um dos piores da noite. Houve alguns episódios mais políticos, como quando o Oscar de melhor caracterização, entregue a Suicide Squad, foi dedicado aos imigrantes, assim como ocorreu em outras premiações, como quando Meryl Streep subiu ao palco no Golden Globes, em janeiro, no momento em que recebeu o prêmio pelo conjunto de sua obra e discursou sobre a diversidade em Hollywood em virtude dos imigrantes e a eleição de Trump para presidente dos Estados Unidos. Também ocorreram episódios emocionantes: o filme Estrelas Além do Tempo, que conta a história de três mulheres negras que compuseram uma equipe de sucesso na NASA durante a corrida espacial na Guerra Fria, trouxe uma das cientistas ao palco do Oscar, Katherine Johnson, de 98 anos. Outro momento comovente foi o discurso de Viola Davis.
A atriz levou a estatueta de Melhor Atriz Coadjuvante por sua atuação no filme “Um Limite Entre Nós”. Em seu discurso, ela exaltou a história de pessoas comuns, dizendo que são as histórias dessas pessoas que ela quer contar. “Histórias de pessoas que sonham alto e não têm esses sonhos realizados; pessoas que se apaixonaram, mas esse amor não deu certo.”