• Por Eneida Kompinsky | Psiquiatra | CREMERS 15849
É um desconforto ou angústia causado pela impossibilidade de comunicação por meios virtuais, tablets, aparelhos celulares.
Esse termo surgiu na Inglaterra, partindo de uma expressão “no mobile phobia”- nomofobia. Uma pesquisa foi realizada em 2008, na Inglaterra, com 2000 funcionários de uma empresa de correio. O objetivo era avaliar a relação das pessoas com seu telefone celular no dia a dia. Nesta pesquisa foi verificado que 58% dos homens e 48% das mulheres relatavam ficar apavorados caso ficassem sem seu celular. Além disso, desta população, 9% apresentam sintomas de ansiedade quando seus telefones ficaram sem crédito ou sem cobertura da rede.
Claro, a conveniência, segurança e bem-estar que esses aparelhos fornecem à nossa vida moderna é indiscutível, mas vem se observando cada vez mais a dependência, muitas vezes, patológica que acabam promovendo sintomas de medo e angústia causados pela impossibilidade do uso de tais aparelhos.
Vemos a importância que estes aparelhos passaram a ter para essas pessoas, chega a um ponto em que esses indivíduos têm necessidade de estar em constante comunicação com o outro. Entretanto, observa-se, ao mesmo tempo, que as pessoas ficam sentadas em grupo numa mesa de um restaurante ou em um aniversário, todos com os celulares ligados, tirando fotos e postando na internet, sem viver tanto o momento e comunicarem-se de verdade.
Pessoas extremamente tímidas passam a usar os celulares como ferramenta para conseguir interações sociais, outros nem se quer conseguem realizar tarefas simples, como se lembrar de um jantar se não tiver um aviso em seu aparelho. Existem relatos na literatura e relatos de profissionais da saúde que algumas pessoas mantêm o telefone ligado 24 horas por dia e sentem ansiedade quando o esquecem em casa. Antes de dormir, programam o telefone com o número do médico, do psicólogo e dos hospitais registrados em teclas de emergência, para o caso de necessidade. Quando ficam sem bateria ou fora da área de cobertura, se sentem ansiosas, angustiadas e inseguras.
Para a psicóloga Sylvia Van Enck, do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso, da USP, a nomofobia é um transtorno do controle dos impulsos com um forte componente de ansiedade generalizada. Além disso, ela ressalta que o celular ainda pode ser sinônimo de status e inclusão social. “Podemos entender que o uso do aparelho celular, mesmo que não excessivo, especialmente em relação à população jovem, esteja relacionado aos aspectos de inclusão social e conectividade entre os amigos. Por outro lado, com o avanço dos recursos tecnológicos, adquirir um aparelho cada vez mais sofisticado confere status econômico e social, o que pode estar relacionado à busca de reafirmação da identidade psicológica dos adolescentes nesta fase da vida”, analisa Sylvia.
A psicóloga Anna Lúcia Spear King, do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, em sua tese de doutorado comparou pacientes com diagnóstico síndrome do pânico (um transtorno de ansiedade), com pessoas saudáveis, para saber o que elas sentiam quando ficavam sem o aparelho celular. Entre os pacientes com pânico, a maioria demonstrou ter também a dependência do celular. Mesmo entre os considerados saudáveis, 34% confessaram sentir ansiedade e 54% disseram ter medo de passar mal na rua se ficassem longe do aparelho. Anna Lúcia lembra que nomofóbicos são pessoas que apresentam um perfil ansioso, dependente, inseguro e com uma predisposição característica dos transtornos de ansiedade que podem ser, por exemplo: transtorno de pânico, fobia social, fobia específica, transtorno de estresse pós-traumático; e costumam ficar dependentes da internet por medo de estabelecerem relacionamentos sociais ou afetivos pessoalmente. “Com o telefone celular em mãos, essas pessoas têm a sensação de estarem acompanhadas e se sentem mais independentes. Quando não existia o telefone celular, estes indivíduos não tinham a mesma liberdade de locomoção e autonomia que têm na posse do aparelho”, explica Anna Lúcia.
As pessoas, em geral, negam que são nomofóbicas e atribuem a necessidade de estar o tempo todo ligado ao celular em função do trabalho ou família. O importante é que possamos nos observar e refletir, já que ainda, segundo Anna Lúcia S. King, a nomofobia pode ser um “sinal de fumaça” que pode nos ajudar a levar a origem do fogo, ou seja, um transtorno de ansiedade que precise ser tratado.