| Saul M. Sastre
Professor, escritor e palestrante
Eu havia chegado cedo, mas a sala já estava lotada a espera de quem ia conduzir a reunião daquela tarde. Entrei e me juntei às pessoas que, entre um gole e outro de café, conversavam animadamente ou não sobre negócios. A pauta ia ser quente!
Inadvertidamente olho para a parede principal do átrio e lá estava uma frase de Chaplin “Nunca se afaste de seus sonhos. Porque se eles forem, você continuará vivendo, mas terá deixado de existir”. Achei inteligente e resolvi anotar no celular para meditar a respeito enquanto aguardava.
Vivo ou existo? Existir todos existimos e ganhamos a existência quando divinamente migramos dos testículos do pai para o ventre da mãe. Existimos muito antes de nascer e depois continuamos existindo quando respiramos, falamos, sentimos, temos necessidades fisiológicas, choramos, gastamos o tempo, atendemos a agenda, trocamos suor por dinheiro, seguimos o fluxo e cumprimos a rotina e a tabela.
Chaplin coloca a palavra sonho no meio da sua frase para convencer que viver é mais que existir e nem todos vivem. Viver é ter prosperidade, posicionamento, fazer diferença. É respirar fundo e no meio do dia se sentir feliz, deixando pequenas as agruras que a aspereza que os segundos tentam nos imputar. É ser maiúsculo para espantar os pensamentos minúsculos. É orar para expurgar fantasmas e deixar que os bons sonhos ganhem datas e se transformem em metas.
Viver é presente, existir é o saudosismo do que passou misturado com a ansiedade do que está por vir. Viver é apreciar as pequenas coisas, cumprir a missão, seguir em frente, evoluir. Existir é sofrer com o passado que não pode mudar, frustrado com o que não tem e acredita que não terá.
Viver é amar, perdoar, arriscar. Quem vive, mesmo em derrotas temporárias, se levanta e segue em frente. Quem apenas existe, existe sabor baunilha.
A reunião ia começar. Estava existindo ou vivendo aquele momento? Quando colocamos significados na existência começamos a viver. Os momentos têm que estar alinhados com sonhos e estes alicerçados em valores. Alguns ali estavam vivendo, outros existindo, o brilho no olho ou a falta dele, dizia tudo.