Texto Kamyla Jardim | Foto Divulgação
A cultura atual incentiva os jovens a buscarem um padrão de beleza estabelecido nas mídias. Novelas, filmes, propagandas exaltam a imagem do corpo perfeito: homens musculosos e mulheres esbeltas. Entretanto, a falta de informação, combinada com o desejo de atingir determinado padrão de beleza, é a principal causa para o desenvolvimento de transtornos como a Vigorexia.
De acordo com a psicóloga Tatiane Cunha (CRP 07/11997), a Vigorexia é uma das mais recentes patologias emocionais estimuladas pela cultura, e ainda nem foi catalogada como doença específica pelos manuais de classificação médica (CID.10 e DSM.IV). Ao contrário da Anorexia Nervosa, a Vigorexia é mais comum no sexo masculino, tendo como característica principal o desejo de ficar cada vez mais musculoso e forte, com dependência exagerada de exercícios físicos e uso de anabolizantes em busca de um corpo perfeito. “Os portadores de Vigorexia vivem numa busca excessiva de se tornar o modelo de homem moderno, com um corpo definido, musculoso e desejado pelas mulheres. É um fanatismo tão grande a ponto de exigir constantemente de seu corpo, sem a preocupação com eventuais consequências ou contraindicações. Nunca se sentem satisfeitos ou se acham suficientemente musculosos, tendo uma distorção da autoimagem, desenvolvendo uma obsessão fixada na questão muscular”, descreve Tatiane.
Muitos jovens frequentadores assíduos das academias apresentam sintomas característicos da Vigorexia, porém, raramente o vigoréxico admite que precisa de ajuda. Antes de procurarem por tratamento, a maioria precisa passar por situações complicadas para se conscientizarem dos males. A psicóloga explica que os critérios de diagnóstico para a Vigorexia ainda não estão claramente estabelecidos por tratar-se de um transtorno atual. O sintoma central parece ser uma distorção na percepção do próprio corpo e deste sintoma decorrem os demais, assim como ocorre nos transtornos alimentares como Anorexia, Bulimia e a Compulsão Alimentar. “Os sintomas da Vigorexia se evidenciam pela obsessão do indivíduo em tornar-se musculoso. Essas pessoas olham-se constantemente no espelho e, apesar de musculosos, podem ver-se enfraquecidos ou distantes de seus ideais. Sentem-se sempre insatisfeitos, e isso faz com que eles invistam todas as horas possíveis em exercícios e ginásticas para aumentar sua musculatura. Além da obsessão por um corpo perfeito, a Vigorexia também produz uma importante mudança nos hábitos alimentares, pois geralmente suas dietas minuciosamente reguladas são ineficazes à saúde”, ressalta Tatiane.
A psicóloga explica que os sintomas mais comuns são as preocupações exageradas com o próprio corpo, as tendências obsessivas compulsivas, a distorção da imagem corporal, a baixa autoestima, o estresse, a irritação, o desinteresse sexual, a personalidade introvertida, a tendência à automedicação, as modificações da dieta, a compulsão aos exercícios físicos e a obsessão pela musculatura. Quando o transtorno está mais avançado, geralmente quando o vigoréxico começa a se dar conta, surgem sintomas como vômitos, náuseas, palpitação e aumento da pressão, muitas vezes confundidos com mal-estares passageiros ou resultado da sobrecarga de exercícios. Tatiane explica que quando associado ao uso indiscriminado de substâncias químicas, pode surgir disfunção erétil, crescimento das glândulas mamárias, problemas vasculares, cardíacos, hepáticos, entre outros.
A compulsão por academias e o aparente desejo de praticar uma atividade física saudável, pode mascarar o transtorno. A Vigorexia compromete a vida do indivíduo de forma intensa. Surgem sentimentos de inferioridade, pela autoexigência e pela dedicação desmedida aos treinos, cirurgias plásticas, procedimentos estéticos, entre outros. Além disso, a busca por músculos pode provocar um progressivo desinvestimento na vida emocional, social e ocupacional, dores e lesões físicas e uso de substâncias que causarão outros riscos para a saúde. Tatiane ressalta que é comum que a Vigorexia tenha início na adolescência, período onde, naturalmente, as pessoas tendem a estarem insatisfeitas com o próprio corpo e se submetem mais às exigências da cultura. “Na adolescência existe uma pressão para as meninas se manterem magras e uma cobrança para que os meninos fiquem fortes e musculosos. A identificação da Vigorexia precocemente é de suma importância no sentido de evitar que os adolescentes façam uso de drogas para obter os resultados desejados ou fantasiados”, salienta.
O tratamento da Vigorexia ainda não foi definido, porém Tatiane explica que o transtorno tem cura e, como muitos outros, quanto antes forem identificados e tratados devidamente por profissionais qualificados, maiores são as possibilidades de sucesso no tratamento. “Não há descrição do tratamento para Vigorexia ou Síndrome de Adônis ou ainda Transtorno Dismórfico Muscular, contudo o auxílio consiste na psicoterapia multidisciplinar com psicólogos, nutricionistas e outras especialidades médicas como, por exemplo, a psiquiatria. Caso o indivíduo faça uso de esteroides e anabolizantes, a interrupção deve ser sugerida imediatamente”, revela.
A psicóloga Tatiane ainda ressalta que a Vigorexia é um tema pouco debatido na sociedade, mas que deveria ser alarmado para que as pessoas tenham consciência dos riscos deste transtorno. “Acredito que primeiro a pessoa deve procurar entender os principais motivos deste sentimento de insatisfação consigo mesmo e até de inferioridade. Tentar compreender que tudo o que é feito em exagero ganha um aspecto de fanatismo e empobrece outras áreas da vida. Preocupo-me em compartilhar com todos, sob um viés psicanalítico, que quando estamos frente a uma pessoa com Vigorexia devemos prestar atenção para além dos sintomas, pois eles alertam para possíveis feridas na autoestima, que além de causar sofrimento psíquico, podem levar a danos psíquicos, físicos e sociais”, afirma a psicóloga, que finaliza destacando: “a atividade física é importante para atingir qualidade de vida e deve ser praticada com orientação profissional, objetivando principalmente a saúde”.