Texto por Kamyla Jardim | foto Vinicius kolling
O cão é chamado de melhor amigo do homem, graças ao companheirismo e fidelidade que dedica ao dono. Entretanto os dados mostram que muitas vezes essa amizade é platônica. A Organização Mundial da Saúde estima que só no Brasil existam mais de 30 milhões de animais abandonados, entre 10 milhões de gatos e 20 milhões de cães. Em cidades de grande porte, para cada cinco habitantes há um cachorro. Destes, 10% estão abandonados. No interior, em cidades menores, a situação não é muito diferente. Em muitos casos o número chega a 1/4 da população humana.
O verão é marcado pelas festas, comemorações e viagens. Mas também por um fato triste: o abandono de animais domésticos. Os donos têm uma programação para as férias e, quando viajam, muitas vezes preferem deixar o cachorro ou o gato na rua do que procurar uma alternativa. Para o cão, o abandono por parte do dono é uma experiência devastadora, da qual ele dificilmente se recupera. Os cachorros, como seus ancestrais, os lobos, são programados pela evolução para seguir o líder da matilha. No caso dos cães de estimação, esse líder é o dono – sem ele, o animal fica desorientado e perde suas referências. Muitos recusam comida, entram em depressão e chegam a morrer de tristeza. De acordo com pesquisadores, quando o cão tem um líder e o perde, vive uma eterna busca para obtê-lo de volta.
Um fator que colabora para elevar o número de cães abandonados é que, de tempos em tempos, torna-se moda possuir um animal de determinada raça. Desde que a collie Lassie fez sua estreia nas telas de cinema, em 1943, basta uma raça ganhar os holofotes para que a procura por seus espécimes aumente. Passado o modismo, muitos donos não querem mais saber de exibir o animal, ou acham que ele dá muito trabalho. Os conhecidos Beethoven da raça são bernardo e o labrador Marley são outros dois exemplos da febre mundial por raças da moda.
Na suíça, para estimular a posse responsável de animais e diminuir o abandono de cães nas ruas e abrigos, há alguns anos o governo suíço promulgou uma lei curiosa. Quem compra um cachorro, além de registrá-lo, precisa fazer um curso que envolve teoria (necessidades e desejos dos animais) e prática (situações que podem acontecer durante um passeio com o animal, por exemplo). Parece que abandonar o melhor amigo do homem não é hábito só dos brasileiros.
As pessoas que não se sensibilizam com o mau que o abandono causa nos animais, não percebem que há também riscos para os humanos. Na rua, os animais podem contrair doenças e repassá-las aos homens. O problema é grave e se torna risco de saúde pública. ONGs e entidades que cuidam de animais abandonados alertam: uma família ou pessoa que adquire um animal deve considerar o animal como um membro da família, pois os animais domésticos em média vivem de 10 a 15 anos, sentem dor e frio. Quem não pode cuidar, não deve adquirir um animal.
Mas onde deixar o pet durante as férias?
• No hotel para animais
Cada vez mais pessoas recorrem aos famosos “hotelzinhos” para deixar seus pets quando viajam. Geralmente, estes locais são dos mesmos proprietários de clínicas veterinárias, pet shops ou canis, e têm experiência com cães e gatos. Mas como o ramo pet tem crescido muito, nem sempre o estabelecimento é preparado para a importante missão a que se presta. Para evitar problemas, é preciso verificar se o estabelecimento possui registro e um médico veterinário responsável técnico pelo local. É interessante também fazer uma visita para conhecer as instalações, o espaço destinado aos animais no canil, o piso utilizado no canil e as áreas para passeio.
Cuidados prévios com a saúde de seu pet são importantes. O animal deve ser vacinado contra raiva, cinomose, hepatite, parvovirose, leptospirose, parainfluenza e coronavirose. Além disso, precisam passar por um controle de parasitas e serem avaliados por um médico veterinário.
Mas será que todo animal fica bem em tais hotéis? Infelizmente não. Alguns cães sofrem de ansiedade durante a separação, e ficam muito nervosos, chorando e latindo o dia todo, neste caso o ideal seria optar por outra solução.
• Na casa da mãe, um clássico
Deixar os cães ou gatos na casa dos familiares ou amigos é bastante comum, e costuma render bons resultados. Normalmente, estas pessoas já conhecem o seu animal, e cuidarão bem dele. Além disso, o serviço é de graça, o que vem a calhar no período de viagens. Mas alguns cuidados devem ser tomados para evitar acidentes e dores de cabeça. A alimentação do seu pet deve continuar a mesma, para ele não passar mal. Por isso, leve para a casa da pessoa a ração que você costuma comprar, e explique a quantidade que o bicho come, e em qual intervalo de horas. Se o cão ou gato não está habituado a comer outros alimentos além da ração, deixe isso muito claro.
As fugas são infelizmente outro fator recorrente neste tipo de hospedagem. Quando o pet chega em uma casa nova, é normal que ele queira explorá-la. Mas portas mal fechadas, furos na cerca ou janelas abertas podem resultar em animais desaparecidos. Para que isso não aconteça, antes de deixar o pet no local, observe com cuidado por onde ele pode fugir, e tome medidas de contenção, como a instalação de portas para animais. Identificá-lo com uma plaquinha é sempre legal.
• Na sua casa, uma opção delicada
Se o seu pet for um peixe ou hamster, deixá-lo sozinho em casa por pouco tempo pode ser uma boa ideia. Mas cães e gatos não costumam reagir bem à solidão. Além disso, a técnica de colocar um monte de comida na vasilha da ração é furada, pois eles comerão tudo em dez minutos, e depois passarão mal. Fora o aspecto nutricional, estes animais muitas vezes precisam de companhia, e ficam tristes – ou até mesmo doentes – quando deixados pra trás. Casos de fugas não são raros nestas condições.
Por isso, se quiser ou precisar deixar um cão ou gato em casa, o melhor a fazer é conseguir uma companhia humana para ele! Pode ser um amigo que goste de animais, um parente ou mesmo alguém pago para isso. O importante é que a pessoa cuide com carinho do pet e saiba resolver eventuais problemas.
Abandono é crime
Caso você veja ou saiba de maus-tratos cometidos contra qualquer tipo de animal, não pense duas vezes, vá à Delegacia de Polícia mais próxima para lavrar Boletim de Ocorrência. Abandono e maus tratos à animais é crime. A denúncia de maus-tratos é legitimada pelo Art. 32, da Lei Federal nº. 9.605 de 1998 (Lei de Crimes Ambientais) e o Art. 164 do Código Penal, prevê o crime de abandono de animais para aqueles que introduzirem ou deixarem animais em propriedade alheia, sem consentimento de quem de direito, desde que o fato resulte prejuízo:
• A pena prevista pelo Art. 32 da Lei de Crime Ambientais é de detenção de 3 meses a 1 ano e multa.
• A pena prevista pelo Art. 164 do Código Penal é de detenção, de 15 (quinze) dias a 6 (seis) meses, ou multa.
É importante levar com você uma cópia do número da Lei (no caso, a 9.605/98) e do Art. 32 porque, em geral, as autoridades policiais nem tem conhecimento dessa lei. Leve também o Art. 319 do Código Penal, caso a autoridade se recuse a abrir o Boletim de Ocorrência.
O pet pode viajar junto
• Transporte de carro – Se seu animal não está acostumado a andar de carro, a dica é apresentar o veículo para ele. Dê algumas voltinhas alguns dias antes da viagem. Os animais deverão ser acomodados no banco de trás, com fluxo de ar e temperatura adequada. Não deixe que o animal coloque a cabeça para fora do carro – além de perigoso para ele, o condutor do veículo poderá ser multado caso tenha fiscalização na estrada. Existem hoje no mercado três produtos indispensáveis para uma viagem com animais: você pode escolher entre cinto de segurança próprio para cães, caixinha de transporte, ideais para gatos, ou ainda grades de proteção.
•Transporte de ônibus – A companhia rodoviária deverá ser consultada com antecedência, já que cada empresa tem a sua regra. Em geral, as empresas aceitam apenas animais de pequeno porte e que estejam em caixas de transporte.
• Transporte de avião – Para viagens nacionais, o Ministério da Agricultura exige atestado de vacinação e de saúde emitidos por um médico veterinário. Para viagens internacionais é necessário que seja solicitado ao Ministério da Agricultura o Certificado Zoo-Sanitário Internacional. Consulte o Consulado do país de destino para verificar quais as exigências para a entrada do animal. Os animais deverão ser transportados em caixas, que lhes permitam espaço suficiente para que consigam se levantar e se virar. Algumas companhias aéreas permitem que animais de pequeno porte viagem junto com os passageiros. Consulte a empresa para verificar quais as dimensões e tipos de caixas de transporte, se há necessidade de sedação e reserva de número de animais por vôo. Não esqueça de levar o bichinho ao veterinário para verificar se sua saúde está em ordem. Além disso, é importante que o animal se sinta bem e confortável na caixa de transporte. Faça a adaptação dois dias antes da viagem: coloque um brinquedo ou petiscos dentro da caixa e tente fazê-lo dormir ali por no mínimo duas noites, isso ajudará a diminuir o estresse durante a viagem.
• Alimentação – O ideal é que os animais estejam em jejum de água e comida de no mínimo duas horas antes da viagem. Isso evita que ele passe mal durante o percurso. Forneça nas paradas um mínimo de água, apenas para refrescar se estiver muito calor.
•Antes da viagem – Faça com que o bichinho faça xixi antes de sair de casa, pois dificilmente ele fará durante a viagem. Tempo prolongado sem urinar pode causar infecções urinárias e obstrução de uretra.
• Paradas – Em viagens longas e quente faça paradas a cada três horas para que o animal beba água. Urine e estique as patas. Pare o carro sempre na sombra, deixe as janelas abertas o suficiente para ventilar sem que o cão consiga escapar. Durante uma viagem, os gatos não devem sair da caixa de transporte, pois, se estiverem estressados com o movimento, barulhos e novas situações, eles podem fugir.
• Medicação – Consulte um médico veterinário para indicação de medicamentos caso o animal sofra de enjôo, estresse ou excitação. Alguns medicamentos podem diminuir esses sintomas.
• Doenças – Consulte o médico veterinário para verificar a vermifugação do animal. A Dilofilariose ou verme do coração, uma doença parasitária dos cães, mas que também pode afetar os gatos é frequente em locais como praias e sítios.