| Carlos Panni
Médico e escritor
A pessoa casa e, eufórica, pensa ou diz ou canta o “enfim sós!”. E vão para a lua de mel levando na bagagem o mínimo indispensável. Ledo engano: nem sós, nem mínimo!
Não costumamos nos dar conta do quanto e de quantos sofremos influência na formação do “quem sou eu”, ou seja, da personalidade que nos torna um indivíduo único.
“Enfim sós”, ele e ela e mais uma multidão… Pai, mãe, avós, tios, irmãos, professores, pastores, amigos e inimigos vão junto, numa extensa caravana.
Todas as vivências, convivências, aprendizados, acolhidas, apoios, traumas e abandonos preenchem muitas malas e mochilas que serão carregadas por cada um com apoio mútuo… ou não.
Por isso a enorme dificuldade, vivida por grande parte dos casais, de entender e aceitar essas pesadas bagagens, conscientes ou inconscientes, que cada um leva consigo e compartilha com o outro. Vínculos, lealdades e compromissos com essa legião diversificada de cada um comumente geram conflitos, ciúmes e constrangimentos. E isso se dá em diferentes níveis de intensidade e magnitude, desde aspectos religiosos, culturais, econômicos e, enfim, na maneira de ver e viver a vida.
A união desses dois universos tão diferentes e particulares exige um esforço contínuo de adaptação com flexibilidade, aceitação e sabedoria. Só assim se poderá alcançar uma convivência harmoniosa e estável.
No momento em que o casal entender que cada um é diferente, desde a sua origem pelas múltiplas influências, a partir da vida intrauterina, a aceitação das diferenças será mais fácil e a relação amorosa mais gratificante e duradoura.
Mesmo que o “enfim sós” seja fictício, nada impede que cada um, em nome do amor que o une ao outro, possa miscigenar essas multidões – para unir o bom – e excluir o que não promove, não constrói e não gratifica.
Este é o desafio!