| Prof. Saul Sastre
Diretor de Administração e Finanças do Daer
Doutorando em Administração
Era um dia frio e pouco mais de cinquenta pessoas se acotovelavam esperando o sinal fechar para atravessar a avenida. O que chamava atenção é que não tinha nenhum veículo passando, quiçá parado na sinaleira. Estávamos na Alemanha, só lá poderíamos presenciar uma cena tão inusitada. “As pessoas só atravessam a rua quando o sinal está vermelho”, explicou o guia. Passando por entre nós, surgem dois rapazes, que se diferenciavam do biótipo Alemão. Estavam comendo alguma coisa. Olharam para os dois lados, nos deram uma “encarada”, levantaram os ombros fingindo não entender o que estava acontecendo, jogaram a embalagem no chão e atravessaram a passos largos. “São refugiados buscando lugar ao sol. Teimam em não respeitar nossas regras”, explicou novamente o guia.
Os refugiados na Alemanha já somam cerca de um milhão e meio de pessoas vindas de todas as partes do mundo. É um país atrativo, pois tem um bom governo, uma economia sólida e além disso uma lei específica de acolhimento para “fugidos” de outros países. A Alemanha fez isso por conta da sua história, uma forma de devolver ao mundo o acolhimento que tiveram dos tempos em que também abandonaram sua terra para matar a fome, a sede e quem sabe, melhores oportunidades para seus filhos.
Um pouco mais adiante na mesma calçada da sinaleira, um casal passeava com seu rechonchudo, pelo bem brilhoso e enorme cachorro. Cena típica europeia, presente em shoppings, trens e nos lugares mais inusitados. Os cães são bem-vindos em toda a parte, desde que estejam com sua coleira guia e o dono se predisponha a juntar o “número dois” dos bichinhos. Contrastando com isso, se vê poucas crianças, sinais claros da opção Alemã por animais em detrimento de filhos, tendência que está se espalhando pelo primeiro mundo.
O próprio governo Alemão está preocupado com isso. A maioria dos jovens vivem só e não querem saber de família. Segundo o Sr. Bernd Antelmann diretor de uma escola técnica em Nienburg, “Nos próximos anos teremos cada vez menos crianças e isso vai impactar na infraestrutura que ficará ociosa, sobrando vagas nas creches e escolas. Com o tempo todo o País, em todos os segmentos serão afetados”.
E na oportunidade, surgem os refugiados. O desemprego na Alemanha é de 1% apenas. Faltam pessoas para trabalhar nas fábricas, empregados domésticos e demais serviços braçais. O governo e uma boa parte da população, que se preocupa em ajudá-los com campanhas para alimentos e agasalhos, vê a presença deles como uma forma de suprir a mão de obra menos qualificada no país. Há controvérsias e não faltam pelas ruas manifestações fervorosas pedindo a saída deles. O motivo? A dificuldade de se adaptar a cultura: Não param nas sinaleiras, jogam sujeira no chão, não conhecem a língua e o pior, não pensam em mudar sua cultura.
Mesmo que os refugiados consigam se adaptar aos padrões alemães, é sabido que o governo também terá que reformular sua política para se adaptar a essa nova realidade. Está aí uma grande novidade no País mais forte da União Europeia.