| Rosane Castro
Escritora e Narradora de Histórias
Lembro com saudades do quintal da casa onde morei até os quatro anos de idade. Minha mãe tinha uma horta linda. Aprendeu a plantar com seus pais, em um pequeno sítio no interior de Santo Antônio da Patrulha. Esse aprendizado foi importantíssimo para o futuro da minha mãe, e do meu.
Com pouco estudo, divorciada, desempregada e com filha pequena, ela teve a ideia de abrir um pequeno comércio de frutas e verduras. Uma Fruteira, como era chamada essas vendas de hortifrutigranjeiros. Naquele tempo era comum esses pequenos comércios, visto que, não tínhamos grandes supermercados na cidade.
Quem tem mais de 40 anos, talvez se lembre do Supermercado Real, o único mercado na Avenida Flores da Cunha. Foram muitas idas e vindas de casa até a Ceasa. Caixas de tomates, sacos de batatas e cebolas, melancias que se balançavam de um lado para outro na velha Kombi. Tudo, cuidadosamente, escolhido pela mulher que amava cortar as pontas do aipim para saber se eles iriam cozinhar bem.
O pequeno empreendimento cresceu, e ela chegou a ter três mercadinhos ao mesmo tempo. Hoje, já aposentada, lembra com saudade dos tempos em que trabalhava na fruteira, pois ela atendia as pessoas com muito carinho e respeito, oferecendo-lhes o melhor alimento para o corpo e para a alma. Assim como ela, existem outras pessoas que plantam para viver, que vivem para plantar. No ano passado, conheci a Regina, uma mulher que gosta de mexer na terra, que descobriu a importância do alimento orgânico. Ela ajuda um vizinho a cuidar de uma horta no Bairro Moradas do Bosque. Além desse trabalho espontâneo e colaborativo, ela resolveu semear algumas mudas no seu jardim. Não satisfeita, também usou a praça que fica em frente à sua casa para plantar algumas hortaliças, e improvisou floreiras utilizando pneus coloridos.
É imprescindível pensarmos na nossa alimentação, saúde e bem-estar. Sabemos que os tempos são outros, que a correria do dia a dia nos obriga, muitas vezes, a consumirmos alimentos industrializados, mas precisamos refletir sobre o efeito, a médio e longo prazo, desses alimentos no nosso organismo. Recentemente, o Ministério da Agricultura liberou o uso de 31 agrotóxicos de uma só vez, já são 169 registros autorizados em 2019, muitos deles são cancerígenos.
Não esqueçamos o ditado: quem planta, colhe. Não é sobre alimentos, mas sobre escolhas.