Por Carlos Panni – médico e escritor
O filme “As confissões de Schmidt” nos propõe um intrigante questionamento: – “O que você vai dizer quando parar, olhar para trás e se perguntar: que diferença eu fiz?”
Bem a propósito, é tão comum encontrar pessoas que passam pela vida sem nem ao menos terem pensado nisso. Por outro lado, há muitos (e bem mais do que publica a mídia) que se dedicam por deixar atrás de si um rastro luminoso de bons exemplos de solidariedade, cidadania, arrojo, determinação, responsabilidade, honradez…
Há os desinteressados, ou interessados somente em si mesmos. Há os que demonstram interesse em si e no outro, entendendo a humanidade como uma grande fraternidade que caminha, tanto mais e melhor, quanto maior for a ajuda mútua. Há os que se esquecem de si e passam a vida (que vida?!) carregando os outros nas costas. O filme é interessante, hilário às vezes, emocionante em outras situações, deprimente até, mas, em suma, o que quer transmitir é a terrível sensação de que a vida não valeu a pena. A aposentadoria, as traições, as frustrações e a perda do encanto por tudo o que antes lhe estimulava, de repente, fez com que se perguntasse: – “Que diferença eu fiz?”.
E se nós nos perguntássemos: Que diferença fazemos nós neste universo de demandas, desafios e oportunidades? No combate à violência, a partir dos nossos próprios lares, no trato com as pessoas, sejam elas “grandes” ou “pequenas”, que diferença fazemos…? E no exemplo que damos aos nossos filhos pela prática de valores morais como a honestidade nas grandes e pequenas coisas, na participação comunitária, na cidadania, na religiosidade, equilíbrio, coerência…?
Que diferença fazemos nós para nós mesmos, pelo nosso desenvolvimento como seres inteligentes, cheios de dons e potencialidades a serem aproveitadas e desenvolvidas, livrando-nos dos grilhões do passado e da ignorância, desbravando fronteiras, superando obstáculos e indo em frente…?
Culturas e filosofias (como a veda, a egípcia, a grega, a inca, entre outras) nos deixaram um legado de valor inestimável e indelével. Expoentes humanos (como Ghandi, Marthin Luther King, Madre Tereza de Calcutá, Sabin, Jesus Cristo, entre os iluminados) mostraram para a humanidade que muito pode ser feito quando se quer e se acredita mais em si mesmo e no poder divino. Nas Paraolimpíadas, deficiências, as mais diversas, são superadas e recordes são alcançados numa demonstração contundente e convincente de que os limites somos nós que estabelecemos, pela garra, denodo, perseverança, coragem, obstinação…
Mas também todos nós, como o índio do Xingu, o empregado e o patrão, o analfabeto e o doutor… podemos olhar para trás e perceber que, de alguma forma e intensidade, estamos contribuindo para fazer a diferença. Enfim, a nossa passagem não está sendo em vão, uma vez que estamos empenhados em deixar um legado de realizações morais e materiais edificantes.
Assim evolui a humanidade!