Lisandra Campos
Psicóloga CRP 07/15396
Vivemos em um mundo onde o dia a dia se torna cada vez mais atribulado. Há uma grande demanda ao ser humano, afinal “tempo é dinheiro”. A modernidade traz um modo de vida calcado em grandes exigências e expectativas sobre as pessoas, muitas vezes irreais. E nos resta seguir com nossos deveres, atribuições, obrigações, onde é proibido esmorecer e o que importa é nunca parar…! Nesse processo de mecanização há algo que fica esquecido, ainda que grite: a individualidade, essencial a cada um de nós. O “homem máquina” se esquece de que não é feito apenas de seu corpo engrenagem. Há emoções, sentimentos, afetos, mas em um mundo onde tempo é dinheiro tudo isso fica negligenciado e se transforma em perda de tempo.
Então nos esquecemos que somos feitos mais do que um corpo físico. Esquecemo-nos ou não aprendemos que o corpo vai além da biologia e anatomia. O indivíduo é um todo interligado. Nossas representações, significações, experiências, história de vida, também fazem parte do nosso corpo. Não há saúde física sem saúde mental e vice-versa. Ver o corpo humano em sua totalidade é compreender que nele estão associados o psíquico, somático e físico.
Atualmente, muito se ouve sobre os ditos ‘novos sintomas’, que são as novas formas de produzir os sofrimentos psíquicos. Um exemplo frequente, mas que facilmente passa despercebido são as psicossomatizações. Aquela dor de cabeça inconveniente ou aquela dor no estomago, falta de ar, náuseas, taquicardia, doenças de pele ou ainda vários sintomas em conjunto, nos levam a procurar um médico, faz-se todo tipo de exames, analisa-se as possibilidades biológicas e qual o resultado? Na maioria das vezes nada, nenhum exame aponta alteração ou causa evidente. Estamos diante alguns exemplos frequentes de reações psicossomáticas. São as nossas dores psicológicas simbolizadas em dores físicas, a doença física vem representar o que de fato está no campo mental. Ou seja, dores, angústias, raivas, tristezas, ansiedades, traumas e todo tipo de sofrimento psíquico que vamos engolindo na correria do dia a dia, nossa individualidade subvalorizada, que encontra uma válvula de escape (a doença).
Tais doenças, embora centradas no corpo, onde o sujeito sente a dor real, podem revelam sofrimentos da ordem psicológica, onde é centrada sua causa. Se o tratamento medicamentoso pode atuar no alívio do sintoma, não é, entretanto, a cura, uma vez que cala a denúncia, mas não alcança o que está sendo denunciado. Sim, o corpo fala, e essas dores aparentemente inexplicáveis do dia a dia, que nos levam a vários médicos e vários fármacos, é o grito de nossa individualidade negligenciada, pedindo atenção, requisitando cuidado. Portanto, é essencial aprofundarmos na causa, sob o risco de nos tornarmos eternos dependentes de medicamentos, com corpo e mente cada vez mais adoecidos. Enfim, se nosso corpo fala e muitas vezes até mesmo grita, aprendamos a escutá-lo e a compreendê-lo. Que a correria do dia a dia e as exigências do mundo moderno não fiquem acima de nossa saúde e bem estar.