Carlos Panni – médico e escritor
Ruídos na comunicação são desacertos, por vezes fatais, em qualquer relacionamento. Uma vírgula mal colocada pode alterar completamente o sentido da mensagem. Assim também, o tom, o volume e o timbre da voz, assim como a postura e o semblante podem ser mais importantes e convincentes do que se procura transmitir através da fala.
Uma coisa é ouvir…. Outra coisa é escutar. Para ouvir, basta ter audição. Para escutar é preciso, também, disposição, atenção e respeito por quem está falando.
É comum interlocutores (e sobretudo casais), queixarem-se de que o outro não está escutando o que está sendo falado. Muitas vezes, o dito diálogo não passa de dois monólogos onde cada um fala, ambos ouvem, mas nenhum escuta.
Nada incomum é o diálogo em que, mesmo havendo escuta, não há validação do que o outro diz, não há respeito pela verdade do outro. Há, de imediato, um processo de elaboração da defesa e intervenção, mesmo quando o outro nem terminou de fazer suas queixas, críticas ou pedidos. Aí, é comum aquele tipo de “diálogo” chamado de “telefone ocupado” num interminável “tu-tu-tu” com queixas e acusações mútuas. Além de nada resolver, piora, ainda mais, qualquer tipo de relacionamento.
Treino de habilidades para o diálogo é um bom e salutar exercício para quem queira aprender a escutar, sem interromper, sem mostrar irritação, raiva ou desdém. Ao contrário (o que não é fácil!), cabe aceitar a “verdade” do outro como sendo, de fato, a verdade do outro. Por mais descabida ou injusta que possa parecer, o que está sendo dito é a verdade que ele (ela) deseja ou precisa transmitir. É preciso esforço e sabedoria para aceitar que aquele “absurdo” esteja passando pela cabeça de alguém… Mas está! E, por alguma “distorção cognitiva” (ou não!), aquela é a verdade dele ou dela.
Por que sente e fala assim faz parte de todo um processo psicológico que não cabe (em plena acepção da palavra) neste espaço. Contudo, merece, a priori, uma resposta e uma explicação respeitosa. Isso, por si só, acalma os ânimos e propicia a continuação de um verdadeiro diálogo, ambos falando a mesma língua e demonstrando interesse em se reaproximar pelo respeito, pelo entendimento, pelo sentimento e – quem sabe – pelo abraço!