Carlos Panni – médico e escritor
Entro no aeroporto com uma pesada mala para empreender uma longa viagem. Os agentes da segurança verificam a bagagem. Nela encontram peças do vestuário, material de higiene, documentos diversos e alguns pertences de valor sentimental. Eles vasculham mais e descobrem um grande fundo falso, bem trancado e dissimulado. Quando o abrem, fico assustado com o grande conteúdo que escondia… E eu não sabia!!!
Era ele, afinal, o que me pesava tanto!
E vem o desespero: lá estão drogas de todos os tipos e de todos os tamanhos. Fico imensamente constrangido, angustiado e com um medo intenso, sem saber como resolver aquela situação, sem ter como fugir… Não há saída!
Cai sobre a minha cabeça a terrível sentença: condenação à prisão com trabalhos forçados até que cada grama daquelas drogas seja dissolvido no meu suor e nas minhas lágrimas.
Terei tido um pesadelo? Será mais uma notícia, já trivial, do tráfico de drogas? Não, esta é a realidade de cada um!
Nesta viagem chamada vida, carregamos um fardo cujo conteúdo apenas pensamos conhecer. Muito bem camuflado, o inconsciente esconde as drogas de vivências e traumas não lembrados, mas sempre atuantes. Eles pesam e atormentam e podem nos surpreender a cada passo, além de nos aprisionar e nos torturar até que possamos acessá-los e dissolvê-los, não sem muito esforço, determinação e coragem.
Dramatizo? Pode ser, mas é certo que, quem influi, às vezes decisivamente, em cada pensamento, sentimento, escolhas e atitudes, em especial os mais importantes, é o inconsciente.
Parte deste conteúdo, que fomos interiorizando, acumulando e reprimindo, desde a mais tenra infância ou, quiçá, desde vidas passadas, passamos a carregar como pedras, correntes e espinhos. Pedras que nos fazem arquear os ombros do ânimo, da determinação e da coragem, correntes que nos impedem de alcançar os cumes mais elevados das nossas realizações mais almejadas, espinhos que laceram e dilaceram os nossos sentimentos de autoestiama, de autoconfiança e de paz de espírito.
É difícil, por vezes, entendermos quem somos e o que queremos, graças aos nossos conteúdos mais velados e secretos e, claro, mais difícil ainda é entender o complexo convívio conosco mesmos, com as outras pessoas e, em especial, a convivência profissional, conjugal e familiar.
Antes de cada “viagem”, na busca do que mais nos importa e mais nos interessa, é de bom alvitre vasculhar – profundamente – o conteúdo mais secreto da nossa bagagem mental e emocional.
O inconsciente, se não desnudado e tratado adequadamente, poderá impedir a realização dos grandes projetos de vida e destruir os mais cálidos amores.