Texto por Kamyla Jardim
A fase escolar pode ser iniciada em diversos momentos da vida das crianças. Alguns iniciam antes mesmo dos dois anos de idade, neste caso, por necessidade dos pais. Outros depois dos três, quatro anos quando a criança já desenvolve um interesse em expandir os relacionamentos. E há também aqueles que iniciam a vida escolar diretamente no primeiro ano do ensino fundamental, já mais maduros para o momento. A criança pode lidar com a ida diária à escola de inúmeras formas, cada caso é um caso. Entretanto, alguns pontos principais podem ser observados e até evitados para tornar este momento mais tranquilo e natural para as crianças.
O psicólogo com especialização em Neuropsicologia Infantil, Auro de Almeida, revela que, nos dias atuais, ir para a escola não significa começar a alfabetização. Em crianças com idade precoce, da etapa do maternal, a ida para a escola não tem o mesmo significado de uma criança que está iniciando o primeiro ano do ensino regular, e, neste momento, podem surgir dificuldades de adaptação. “As crianças são diferentes em seus sentimentos e manifestações, mas geralmente quando são menores de três anos preferem ficar mais com os pais ou familiares, pois ainda necessitam exercitar situações que lhes darão maior segurança nas relações sociais”, afirma.
O momento é muito importante e significativo para a criança. O afastamento da sua segurança familiar a leva ao enfrentamento de ansiedades que podem gerar transtornos emocionais. Segundo Auro, a condução deste processo passa pela organização conjunta entre família e escola. “É necessário planejar o período de adaptação para que a criança se familiarize com o novo ambiente, diminuindo a ansiedade, gradativamente, fazendo com que ela se sinta mais segura e confiante. Neste aspecto, a escola precisa oferecer a família um período de adaptação, iniciando com um tempo menor e aumentando gradativamente”, destaca.
A diferença das manifestações emocionais dos pequenos depende de vários aspectos, dentre eles, destacam-se a capacidade psíquica da criança para esse enfrentamento e a forma como a família conduz a situação. Auro explica que quanto mais a família se mostra insegura, mais difícil será a adaptação. “Em muitas situações a insegurança é da mãe ou outro membro da família, sendo a manifestação da criança uma resposta a esta necessidade. Ou seja, há uma mensagem subliminar emitida pela mãe que a criança responde através do comportamento”, revela.
O psicólogo frisa que a tranquilidade dos pais é fundamental e passar segurança para a criança é um aspecto que deve ser trabalhado. “Os pais devem conversar com a criança explicando as rotinas, devem fazer uma visita prévia a escola, combinar com o filho os horários de retorno para casa e cumprir sem se atrasar. Explicar e sugerir o que ela deve fazer em situações de estresse, conflito com os colegas. Discutir com a criança situações práticas e sugerir encaminhamentos que ela deve fazer caso ocorra algum contratempo. Deixar a disposição da criança um número de telefone para que ela possa ligar se necessário”, aconselha. Auro ainda relembra que muitas crianças precisam levar algum brinquedo de casa, pois isso tranquiliza, significa um objeto concreto de ligação entre a casa e a escola. Entretanto, se as estratégias postas em práticas não forem suficientes, os pais não precisam entrar em pânico, cada criança tem seu tempo para encaminhar ou resolver suas questões, o importante é continuar encorajando, sem pressioná-la. “Em casos extremos, os pais devem conversar com os responsáveis da escola para montar uma estratégia diferente, que pode incluir diminuição de horário, entrada em horários diferentes, estimulação através de “colegas padrinhos” onde um colega da própria turma ou mais velho fica mais próximo da criança dando apoio”, afirma Auro. Se ainda assim os problemas de adaptação persistirem, é aconselhado que os pais busquem um psicólogo para uma avaliação mais detalhada.
Outro ponto importante que auxiliará na adaptação positiva da criança é a escolha correta da escola. Quanto menor for a criança maior é o cuidado que os pais devem ter. De acordo com Auro, devem-se observar aspectos de segurança e propostas pedagógicas que considere e respeite as necessidades da criança em sua faixa etária. Nem sempre uma escola cara é a melhor. A família precisa sentir e avaliar o quanto os profissionais se mostram afetivos, o que faz a diferença é o educador em sala de aula. Um professor carinhoso, atencioso e criativo diminui muito as ansiedades das crianças e oportuniza um espaço potencial para um aprendizado que inscreve na criança memórias afetivas, associadas ao prazer de aprender. Aspectos práticos como o número de crianças em sala de aula, material pedagógico adequado à faixa etária, espaço físico e higiene também devem ser levados em consideração.
Para finalizar, o psicólogo sugere aos pais preocupados um planejamento antecipatório do início da vida escolar, afirmando que se as ações forem planejadas e organizadas é bastante provável que haverá uma adaptação positiva. Auro ainda ressalta, tranquilizando os pais: “Qualquer situação de desafio, como ir para a escola, gera nervosismo ou sofrimento, contudo esta experiência precisa ser propulsora de crescimento e amadurecimento da criança. O sofrimento no sentido decorrente da exigência do enfrentamento de desafios nem sempre é negativo. Lembrem-se não há crescimento sem sofrimento”, conclui.