Prof. Saul Sastre/Diretor da Atitude3 Desenvolvimento em Gestão/Doutorando em Administração
Foram muitos dias sem os serviços dos Correios. Antigamente era muito mais fácil nossa árdua tarefa de manter as contas em dia, bastávamos ter o dinheiro, que já era difícil, irmos para uma agência bancária e nossas contas eram pagas por experientes caixas. O desafio era tentar identificar quem era o office Boy cheio de contas que iria “alugar” um funcionário só para ele durante mais de uma hora.
Em seguida inventaram a fila única, depois o sistema de malote e tudo ficou melhor. Eram vários guichês, cinco, seis, dependia da agência a nos atender. Com o tempo, inventaram os caixas eletrônicos e ai, fomos nós que tivemos que fazer o serviço “deles”. Redução de custos dos bancos, que não refletiram no aumento de salário dos bancários. E os caixas eletrônicos seguiram evoluindo, transcendendo às 24 horas, com o poder de aumentar o dia para 30 horas, como assim dizia a propaganda. Tivemos que aprender “na marra” a digitar grandes códigos e aprendemos, “pagando micos” a trabalhar de caixa. Até hoje a geração Baby Boomer tem sérias dificuldades.
Com os home offices, ganhamos o direito de não precisar mais sair de casa, tudo via Internet e começamos a ser incentivados a não ir mais nos bancos. Quanto maior a distância da agência, mais lucrativos somos para eles e quando temos que conversar pessoalmente, não raro perdemos um turno inteiro. A lei da fila é só para a fila dos caixas e não para as filas de atendimento individual, um absurdo e uma falta de respeito com os clientes.
Agora, nestes dois meses que se passaram, o desafio ficou um pouco pior, além de termos que trabalhar para pagar as contas, o que é justo, além de termos que trabalhar de bancários fazendo o próprio serviço deles, o que não é justo, tivemos também que correr atrás das contas que não chegaram. Um custo para nossas empresas, um turno inteiro de uma segunda-feira cheia de vendas, atrás das contas que ainda não estavam em débito automático. Foram horas de Internet e muitos telefonemas para anotar códigos de quase 50 números intermináveis que nos confundem quando o número de zeros é superior a quatro unidades.
Mas ao mesmo tempo em que as dificuldades apareceram, surgiram também alternativas. Resolvemos nossas cobranças de clientes mandando via e-mail e economizamos. Intensificamos os débitos em conta e agora somente compras eventuais que não estão com pagamento automático.
Não lembro mais do dia que postei uma carta no Correio, penso que faz mais de 25 anos e fazendo uma pesquisa rápida na empresa, perguntei a alguns colegas, há quanto tempo não postavam uma correspondência e salvo docs e envio de mercadorias, ninguém lembrava da última data. Os mais novos da geração Y, até duvidaram que as pessoas trocavam correspondências e que isso muitas vezes chegava a demorar dias. Hoje, com o e-mail, o Facebook e tantas mídias sociais, isso fica muito difícil de explicar mesmo. Fica difícil de fazê-los entender do romantismo que era mandar uma carta de amor escrita a mão, com perfume para a namorada. Propostas inocentes que demoravam uma eternidade para chegar e que cada vez que nos lembrávamos da possibilidade dela estar lendo, tínhamos calafrios. Bons tempos.
A greve extensa dos Correios desnudara o quanto o mercado “deles” tem produtos substitutos. O presente não será mais o mesmo e o serviço tenderá a diminuir, até que um dia, quem sabe, nossos filhos ou netos duvidem que nós tivéssemos uma empresa pública cuja missão era o serviço de entrega de contas e produtos.