| Por Aline Peterson
Bacharel em Letras – Português/Inglês
Mestre em Estudos da Literatura
Um matador frio e pragmático, impossível de ser pego. O jeito de andar, a voz grave e imperturbável, o cabelo que parece não se encaixar na aparência austera, mas que acaba sendo a cereja do bolo para sua figura temível. Uma serenidade aterrorizante é apontada em seus atos, e é também através deles que conhecemos, aos poucos, Anton Chigurh (Javier Bardem). Seus olhos precisos nos ambientam ao caos que ele traz consigo. Homem educado, que bate na aporta antes de arrombá-la. Roupas sóbrias, um andar que, apesar de calmo, sempre o leva para onde ele quer. Não é personagem principal, mas, em imponência, quase se confunde com ele. Para ele, matar é tão natural quanto respirar.
O filme se chama “Onde os fracos não têm vez” (No country for old men). Das indicações que recebeu ao Oscar, ganhou a de melhor filme, melhor diretor para Joel e Ethan Coen, melhor ator coadjuvante para Javier Bardem e melhor roteiro adaptado. Também recebeu o Globo de Ouro de melhor roteiro e melhor ator coadjuvante. No Bafta, ganhou o prêmio de melhor diretor, melhor ator coadjuvante e melhor fotografia. O filme é baseado no romance de Cormac McCarthy (No Country for old men. No Brasil, traduzido como Onde os velhos não têm vez), escrito em 2005, dois anos antes do lançamento do filme. O cenário é perfeito: Texas, anos 80, camionetes, chapéus de cowboy e armas: tudo favorável para que uma boa história possa acontecer.
Além de Anton Chigurh, os outros dois personagens com papéis fundamentais na trama são Llewelyn Moss (Josh Brolin), um veterano de guerra que, por sorte ou pela falta dela, encontra uma mala cheia de dinheiro, e o Xerife Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones), homem prestes a se aposentar, que está no encalço de Chigurh e Moss. O filme é organizado em torno de diálogos eficazes e ações com muita tensão. Tal tensão é, por vezes, angustiante, representada muito bem na cena do bar, em que uma moeda pode decidir o futuro de um homem. É o tipo de filme que apresenta uma cadeia de detalhes que nos faz chegar a interpretações. Prenúncios como o ato de Chigurh de cuidadosamente levantar os pés para não sujá-los com o sangue de uma de suas vítimas, quem ele acabara de matar, nos levam a acreditar, mais tarde, na morte de outra personagem. Mesmo que o espectador não presencie isso, o simples gesto de Chigurh de limpar os pés ao sair da casa nos faz acreditar que ela aconteceu.
O final se encaixa perfeitamente em um tipo de filme como esse. Não importa mais quem morreu, quem sobreviveu, quem ficou com o dinheiro. O que importa é o que, no fundo, já sabíamos. Para onde vai o Xerife. Seu futuro é tão certo que já havia sido traçado no início da trama. Não há mais espaço naquele lugar para aquele velho homem.