| Rosane Castro
Escritora e Narradora de Histórias
Recentemente, conheci uma mulher com uma história de vida interessante. Ela chegou de mansinho e foi conquistando o seu espaço entre um grupo de amigos que se reúnem – quase todas as semanas – para prepararem, juntos, o jantar. Incluo-me nesse grupo. Uma família de amigos com gostos e hábitos afins, que acolhe novos membros com muito carinho.
O nome dela é Lúcia, que significa “a luminosa”, “a iluminada” ou “aquela que nasceu com a manhã”. E, tenho que concordar, ela traz a energia do sol e uma vontade imensa de iluminar a vida das pessoas.
Durante 24 anos viveu um casamento que lhe privou de reconhecer sua vitalidade, enquanto ser humano. Deixou os sonhos de estudar e trabalhar para cuidar do marido e de seis filhos. Foi uma escolha valorosa, sem dúvida. Porém, a roda da vida girou, deixando-a mais confiante para buscar os seus objetivos. Hoje, ela está aqui, nas linhas desse texto para que reflitamos sobre o papel da mulher na sociedade, sua força e luta para conquistar um espaço que, ainda, está longe de ser ideal.
Portanto, vou buscar na expressão “lugar da mulher é onde ela quiser”, uma frase muito usada nas redes sociais e manifestações em prol de causas feministas e sociais, o fio da meada para a nossa reflexão. Numa conversa com Lúcia, ela me trouxe uma informação que me fez repensar o quanto precisamos ampliar nosso olhar para a história mundial, e perceber o quão distante ainda estamos de alguns setores da sociedade, que continuam sendo ocupados pelo sexo masculino. Já reparou nas cédulas de dinheiro? Lúcia reparou e pesquisou.
As notas da nossa moeda, o Real, trazem uma efígie simbólica que representa a República e um pouco da história da fauna brasileira: o beija-flor-de-peito-azul, a garça-branca-grande, a arara-vermelha, o mico-leão-dourado, a onça pintada e a garoupa são homenageados nas notas de um, cinco, dez, vinte, cinquenta e cem reais, respectivamente. Agora, você sabe quantas mulheres foram homenageadas nas cédulas de dinheiro? Das 30 pessoas retratadas, até hoje, nas cédulas da moeda brasileira, apenas duas são mulheres: a princesa Isabel e a escritora Cecília Meireles. Mas, esse não é um “mérito” apenas do Brasil. Outros países também optam por personalidades masculinas.
Presumo que, poucos talvez, tenham reparado nisso, ou tiveram interesse em pesquisar. É que quando o assunto trata de mulheres, muitas vezes as pessoas acham que estamos exagerando. Não. Não estamos. Lutamos para conquistar e assegurar nossos direitos em um mundo que, quando não nega, minimiza as nossas dores.
Esse assunto é longo e complexo. Posso voltar a falar dele em outro momento. Por enquanto, fico com a pesquisa da Lúcia e com as mulheres que, assim como ela, conseguiram mostrar seu valor e competência, mesmo sem representatividade em notas de dinheiro.