| Rosane Castro
Escritora e Narradora de Histórias
Escrito por Hans Christian Andersen, O Patinho Feio é um conto de fadas que continua a nos proporcionar muitas reflexões. A história foi publicada pela primeira vez em 11 de novembro de 1843 e segue em sua linda trajetória pelo mundo, encantando crianças e adultos pelo fio mágico da construção simbólica.
Quem não conhece essa história?
Um filhote de cisne que nasce sob os cuidados de uma pata e que passa a ser hostilizado pela família e por outras aves por ser “feio e esquisito”. Após consecutivas humilhações, resolve ir embora. Porém, além do frio, do medo e de outras intempéries, um dia ele encontra um bando de cisnes numa lagoa. Com receio, aproxima-se daquelas lindas aves que ele tanto admira. Para sua surpresa, ao abaixar a cabeça em demonstração de respeito, vê-se refletido na água e percebe que ele também é um cisne. O seu coração explode de alegria e, finalmente, ele encontra sua verdadeira identidade.
Recentemente, participei de um projeto de mediação de leitura na cidade de Canoas, no bairro Guajuviras. Numa praça da região periférica da cidade, em meio a livros e crianças, tudo estava como previsto não fosse aquele menino que nos observava a distância.
Aproximei-me dele. Perguntei se ele gostaria de ouvir uma história. Num primeiro momento percebi sua resistência, mas que logo cedeu lugar a curiosidade. Entre uma história e outra, o menino foi sorrindo e se aproximando, até que ele disse:
– Eu tenho livros! Estão guardados na minha mochila.
Esse foi o princípio de uma longa e prazerosa conversa com aquele menino de, aproximadamente, oito anos.
– Posso ler a minha história para você? Disse com o olhar brilhante.
– Lógico! Falei com o sorriso que ia de orelha a orelha.
Ele saiu correndo para buscar o livro, retornou com a mesma rapidez. Aquele menino de bermuda e que não usava meias, passava pelo frio de 10° aquecendo o meu dia.
Adivinha o livro que ele trouxe?
Leu página por página usando a memória. Contou a história com a leitura de mundo de uma criança de oito anos que ainda não decodifica os símbolos da escrita, mas que domina a criatividade.
Contou três vezes a mesma história. Pediu para que eu lesse, mais umas quatro vezes.
O que isso significa? Não sei. Não tenho respostas para esse encontro. O que pretendo com esse texto é falar da importância de certas leituras para a construção da nossa identidade e para que nos encontremos neste mundo que, às vezes, nos abraça, em outras, nos hostiliza.
Guardo a lembrança desse dia, do menino e do Patinho Feio.
Fui para casa e me olhei no espelho.