Prof. Saul Sastre – Diretor da Atitude3 Desenvolvimento em Gestão – Doutorando em Administração
Os professores Sull e Escobar em 2004, apresentaram um estudo das características das empresas brasileiras que conseguiram sobreviver e ainda melhorar seus índices de competitividade no cenário globalizado. As empresas pesquisadas foram selecionadas a partir do seu desempenho financeiro e seu comportamento no mercado diante dos demais competidores, ao longo de uma década
As conclusões são que essas empresas desenvolveram uma competência especial para lidar com as turbulências ambientais. Segundo os autores, os principais fatores de longevidade são:
1 – Capacidade de reagir a mudanças (adaptação): A capacidade de reagir a mudanças torna-se decisiva em ambientes turbulentos e para se manter competitiva é preciso desenvolver agilidade para agir com presteza diante das mudanças inesperadas. Assim como o Brasil, o mercado global tem se mostrado em mutação e turbulento, exigindo das organizações a capacidade de mudar e se reinventar continuamente.
2 – Oportunismo estratégico: Ao mesmo tempo que as turbulências do mercado geram ameaças também criam oportunidades e o fator de “enxergar” oportunidades em meio a todas as adversidades é um dos fatores de longevidade em um ambiente competitivo.
3 – Espera ativa e reforço principal: A espera ativa consiste em manter a organização em constante alerta para poder antecipar ou reagir rapidamente a mudanças. O reforço principal refere-se ao foco da reação e catalisação de recursos para mudanças.
4 – Recursos financeiros disponíveis para eventualidades: Por muitas vezes as empresas enfrentam momentos de dificuldades oriundos de fatores sistêmicos, estruturais ou internos que inibem a entrada de receitas, tornando a capacidade de poupança e a construção de reservas de ativos inativos, determinante para o enfrentamento de situações de turbulências.
5 – Monitoramento ambiental: É importantíssimo para a longevidade organizacional e manutenção da competitividade, a prática do monitoramento ambiental, através do acompanhamento da evolução dos mercados onde atua, as ações dos concorrentes, as tendências políticas e econômicas.
6 – Excelência operacional: Além da qualidade do produto, alinhado com o público alvo, é fator decisivo a busca de custos mais competitivos, através da inovação, perseguindo a racionalização de processos e mão de obra, entre outros.
7 – Flexibilidade estrutural com a capacidade de alocar recursos de acordo com o ambiente: A flexibilidade estrutural relaciona-se a capacidade de alocar recursos de acordo com as necessidades do momento, permitindo a organização se adaptar com mais facilidade as oscilações ambientais.
8 – Gestão de risco: As turbulências econômicas podem alterar a capacidade dos clientes de honrar seus compromissos financeiros, elevando assim as taxas de inadimplência. A gestão do risco está na capacidade da organização em minorar seus riscos diante de situações que possam atingir suas atividades, inclusive políticas de diversificação de portfólio de produtos.
Em visita a uma empresa, conversando sobre o desenvolvimento de colaboradores, o empreendedor à frente dos negócios afirmava que a gestão de pessoas tem mudado continuamente: “Hoje existe um empoderamento, estamos nas mãos deles, que se não gostam do nosso tratamento, vão embora, levando junto com eles tudo o que sabem, o que nos resulta em aumento dos custos com pessoas, dificuldades de padronização de procedimentos, perda de qualidade junto aos clientes e consequente perda de negócios”.
Se nesta última década, a competitividade estava basicamente no comportamento da organização para enfrentar turbulências, para esta nova década surge o NONO ELEMENTO, a gestão de pessoas, mas não simplesmente um pacote atrativo de benefícios e um salário aditivado para atrair os melhores profissionais, mas uma forma de administrar que se origina na mudança da cultura organizacional, que deverá prezar pela ética acima de tudo.
Diante de uma padronização de tecnologia e estruturas, serão competitivas as empresas que tiverem os melhores colaboradores, pessoas desenvolvidas técnica e moralmente que não tolerarão mais trabalhar em empresas que não prezam pela ética nas suas relações.
O NONO ELEMENTO DA COMPETITIVIDADE, está no alinhamento da conduta moral e a missão da empresa perante a sociedade, com a conduta moral e missão de vida dos colaboradores, que farão do seu trabalho, uma forma de se realizar não só financeiramente, mas também como ser humano útil a sociedade.
Como vimos, para sobreviver nesta década, as empresas terão que novamente se reinventar, só que agora o desafio é maior, o desafio será mudar sua cultura diante do mercado e nunca o Triple Botton Line (sustentabilidade financeira, social e ambiental) esteve tão em alta.