| Saul M. Sastre
Professor, escritor e palestrante
No passado a dualidade predominava. Os opostos: preto ou branco, sorte ou azar, bom ou mal, dia ou noite, luz ou sombra, alegria ou tristeza, positivo ou negativo, entre tantas, permitiam escolher entre um ou outro apenas.
Se viajávamos íamos de carro ou de ônibus e ficávamos em hotel ou barraca. Na cidade para quem não tinha carro, o jeito era andar de ônibus ou de tá131xi. O mundo era dividido em dois: o capitalismo dos EUA ou o comunismo da União Soviética. Chegaram a fazer um muro dividindo a Alemanha em duas por causa disso.
Um comércio podia ser aberto na rua e existia somente no mundo real. Uma pessoa podia ser solteira ou casada. A viuvez era tolerada em caso fortuito e aí passava-se a aliança do falecido ou falecida para a mão esquerda, fazendo uma dupla com a outra para o resto da vida. Um homem era heterossexual ou homossexual. Tudo era duplo e não tinha terceira via. Se resumia em escolher uma coisa e abrir mão de outra e assim ir definindo a sorte.
Da década de 80 para cá, a dubiedade do mundo começou a se transformar. Hoje podemos fazer viagens de carro, ônibus, moto, ou um aplicativo qualquer que solidariza uma carona. É possível ficar em hotel, barraca ou locar um imóvel no Airbnb. Anda-se de ônibus, táxi, lotação, moto-táxi, bicicleta ou ainda de Uber. O mundo é dividido em vários blocos e ideologias. O muro da Alemanha virou ruína.
Um comércio pode ser aberto na rua, num shopping ou ainda ser virtual, ou tudo ao mesmo tempo. Uma pessoa pode ser casada, solteira, divorciada ou ter uma união estável. Nunca mais vi ninguém com duas alianças na mão esquerda. O homem pode ser homossexual, heterossexual ou metrossexual. E a mulher também.
O certo e o errado não estão mais tão certos ou tão errados assim. A palavra depende diz tudo. A Internet acelera o mundo do depende e nos mostra que somos sete bilhões de pessoas diferentes com diversas possibilidades. O mundo do depende nos obriga saber onde queremos chegar para fazermos melhores escolhas. É a evolução que exige a cabeça aberta, sem espaço para preconceitos.