| Rosane Castro
Escritora e Narradora
de Histórias
Kamazu é o nome da personagem protagonista da história e, também, é o título do livro de Carla Caruso. Publicado pela Editora Mundo Mirim, a obra é um mergulho ao universo peculiar das crenças e costumes africanos. Em trinta e uma páginas, a autora, que assina a ilustração, conta a história do menino órfão que irá descobrir, através dos sonhos, sua verdadeira vocação.
Vida e morte estão presentes no conto. Ao nascer, o menino recebe o nome de Kamazu (que significa “medicinal”) em decorrência do restabelecimento da saúde do seu avô. Devido a uma doença grave, o patriarca da família estava à beira da morte, mas, justamente, no dia do nascimento do neto, ele é curado. Kamazu era o primogênito, seus irmãos já eram casados. Posteriormente, com a morte dos pais e do avô, ele vai morar com um tio que decide trocá-lo em pagamento por uma dívida com um senhor dono de terras.
O menino, agora escravo, passa os dias entre os trabalhos da fazenda e o descanso à sombra do Baobá. Porém, o desejo de liberdade é do tamanho da grande árvore e forte como suas raízes. Sabedor das dificuldades dessa conquista, Kamazu divide suas aflições com a Vó Luana. Uma escrava de, aproximadamente, noventa anos, que trabalha na fazenda. É ela que irá, através de provérbios, passar alguns ensinamentos ao menino. Assim como Vó Luana, a autora nos convida a navegar pelo rio místico das lendas africanas, onde as aventuras e desventuras de um menino são surpreendentes e comoventes.
A autora utiliza o simbolismo dos sonhos, elementos mágicos e provérbios para conduzir a trama e ajudar o menino Kamazu a descobrir o caminho a percorrer em busca da sua liberdade. Com muita sutileza e habilidade com as palavras, Carla Caruso, convida-nos a conhecer essa lenda angolana que mostra a relação do menino com o meio ambiente e o poder da sua intuição. Uma história para ser lida com todos os nossos sentidos.
Novembro é o mês da Consciência Negra. Ler um conto que fala da coragem e perseverança de um menino para comprar a sua liberdade nos mostra o protagonismo desse povo que foi subjugado, mas que traz sua beleza na cor e na força.
Que a literatura continue dando voz e vez aos povos oriundos da África e seus descendentes.