Texto por Denise de Oliveira Milbradt|Foto Divulgação
Até os seis meses de idade tudo o que o bebê precisa para crescer é do leite materno. A partir daí começa a vivenciar as mais diversas experiências gastronômicas, que se inicia com a ingestão de frutas, verduras e legumes. Aos poucos são introduzidos novos alimentos ao seu cardápio e as recusas ao novo serão constantes. Mas, o que fazer se a criança for diagnosticada com neofobia alimentar?
Saiba que o pânico na hora de aceitar estes produtos, que chegam a causar estranheza aos olhos da criança pela sua cor, formato ou cheiro é muito comum. Em muitos lares, a hora da refeição se torna um momento tenso diante da recusa dos pequenos em ingerirem alimentos nutritivos e experimentarem o que é saudável.
Muitas vezes, a rejeição acontece sem nem mesmo prová-los. O que os pais precisam saber é que isso não quer dizer que a criança sempre vai recusá-los. Eles poderão ser aceitos em uma outra ocasião, desde que sejam oferecidos novamente. A maturidade do paladar das crianças não acontece da noite para o dia. Portanto, não se pode desistir de oferecer o alimento nas primeiras recusas. Insista, mude a apresentação do alimento se for o caso.
Alguns pais ainda tendem a acreditar na ideia de que o filho precisa comer muito para estar bem nutrido. É preciso ficar claro que a criança come menos do que os adultos e que, quando ela come uma quantidade maior do que sua capacidade gástrica, a mesma pode perder o seu controle de fome e saciedade, o que poderá gerar problemas futuros.
Para a nutricionista Vitória Boelter Hann a melhor estratégia é criar o hábito da oferta de alimentos novos. Segundo ela, é normal que a criança rejeite num primeiro momento, pois é uma situação nova para ela, porém não se deve desistir e, o mais importante: deve acontecer de forma natural, sem que a criança se sinta pressionada. “Uma boa opção é sempre ter esse alimento na mesa e lhe oferecer. Se ela recusar não insista, muito menos faça chantagem do tipo: se você não comer ficará sem sobremesa. Isso cria a ideia de que a sobremesa é boa e a comida não”, explica.
Caso a criança prove e não goste, Vitória aconselha a continuidade da oferta nas próximas refeições, sem qualquer tipo de pressão. Outra boa opção é os pais darem o exemplo. “Se a criança não aceitar, coma você e mostre a ela como é bom aquele alimento”, sugere a nutricionista.
A recusa alimentar também pode estar associada, em algumas situações, a algum fator psicológico, porém na grande maioria a criança é influenciada pelos hábitos dos pais. A família quando já tem hábitos alimentares deficitários (consome alimentos gordurosos, por exemplo) terá maior dificuldade de fazer com que a criança passe a consumir frutas e verduras se estes não fazem parte do seu cardápio.
Nestes casos, a nutricionista sugere que os pais também passem por uma reeducação, pois além da criança criar hábitos mais saudáveis, melhoraria a saúde dos pais. Aumentar o consumo de frutas e verduras, a ingestão de água e diminuir o consumo de alimentos industrializados, sal, açúcar e gordura seria um bom início. “E importante ressaltar também que a criança está com um hábito alimentar em desenvolvimento, portanto se você não gosta de determinado alimento não quer dizer que seu filho também não irá gostar. Ofereça e nunca diga que algum alimento e ruim ou que você não gosta na frente dele”, detalha Vitória.
Educação alimentar ajuda crianças e adolescentes
A nutricionista Vitória Boelter Hann trabalha, desde agosto, no Instituto Providência em Porto Alegre e convive quase que diariamente com o drama da neofobia alimentar. No local são atendidos 200 menores, dos cinco aos 16 anos, que passam o turno inverso da escola participando de diversas atividades, incluindo oficinas culturais e culinárias, além do trabalho de reeducação alimentar desenvolvido por diversos profissionais. “Vivo a experiência de tentar ajudar as famílias e é comum casos de neofobia alimentar. É quando procuro enfatizar a importância do consumo de determinados alimentos para a saúde. Outra estratégia que utilizamos é sempre ter a oferta de frutas e verduras. A criança é muito influenciada pelo meio social que está inserida, por isso a oferta de alimentos saudáveis deve ser constante, tanto nas escolas quanto nas famílias”, defende Vitória.
Dicas para diversificar a alimentação
-Desde o início da introdução alimentar (após os seis meses de idade) ofereça somente alimentos como papas de fruta, legumes e verduras sem adição de sal e/ou açúcar;
-Antes dos dois anos de idade não dê a criança alimentos como refrigerantes, bolachas recheadas, salgadinhos, balas. Após os dois anos evite, ao máximo, que ela os ingira;
-Mesmo que ela recuse o alimento ofereça-o constantemente;
-Diversifique a forma de preparo desse alimento: assado, cozido, em forma de papa ou purê, in natura, picado, amassado… assim ficará mais fácil a aceitação por parte da criança.
Comportamento alimentar sofre influência dos pais
Segundo um estudo realizado por investigadores da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto, os pais desempenham um papel importante no comportamento que a criança tem face à alimentação. Segundo este estudo, a neofobia, isto é o medo ou recusa de provar/comer novos alimentos, das crianças, avaliada pela Escala de Neofobia Alimentar (ENA) variava entre 10 a 55 (média 33,24), ou seja, apresentavam valores de comportamento neofóbico mais elevado do que os encarregados de educação, de 17 a 59 (média 41,83).
Um comportamento neofóbico mais elevado das crianças encontra-se associado a uma maior frequência de ingestão de alimentos “simples” mas também a uma menor ingestão de alimentos “saudáveis” e a um percentil, do índice de Massa Corporal, mais elevado da criança. Foi encontrada uma associação muito fraca entre a neofobia alimentar total das crianças e a neofobia alimentar total dos encarregados de educação. Foram encontradas associações que indicam que pais menos autoritários e mais permissivos quanto aos hábitos alimentares da criança são um determinante para o aumento da neofobia.
O que se torna ainda mais percetível quando verificamos que um encarregado de educação mais neofóbico se torna mais permissivo para que a criança não coma a mesma comida da restante família, permitindo que coma uma comida diferente, assim quando a criança apresenta grande dificuldade em comer o que é desejado para ela, acaba por comer menos vezes a mesma comida da restante família, mas mais vezes uma comida diferente, o que pode não só determinar uma diminuição da sua variabilidade alimentar, mas também um aumento do seu comportamento neofóbico.