| Saul M. Sastre
Professor, escritor, consultor e palestrante
Jorge Amado, no Romance Gabriela Cravo e Canela, conta a história do Bataclan, famoso cabaré da cidade de Ilhéus, lugar onde os poderosos coronéis latifundiários de cacau, se reuniam as noites para confabular. Na sua genialidade, o autor mistura vida real com ficção, para relatar fatos e acontecimentos.
No início da história, as mulheres do bordel decidem participar da procissão tradicional da cidade e foram pedir autorização para o padre. As esposas dos Coronéis se sentiram ofendidas, pois já dividiam seus homens com elas à noite e agora teriam que dividir em plena luz do dia em um evento social. Resolveram pressionar o padre para que não autorizasse a permanência delas no evento. Pressionado, o líder religioso foi obrigado a dizer não as prostitutas, que por protesto, decidem fazer greve de sexo. De início, ninguém deu muita importância, eram consideradas intrusas e as causas de todo o mal na sociedade Ilhense.
O tempo foi passando, e sem o serviço sexual que o Bataclan fornecia, o mau humor tomou conta da cidade. Os coronéis começaram a criar os mais diversos problemas com suas esposas. Disso, houve um aumento substancial de casos de defloramento de donzelas. A sociedade virou um caos.
O desfecho acontece quando todos se dão conta do papel social que o Bataclan tinha em Ilhéus. Ainda lembro da cena do padre, o coitado que foi pressionado por todos os lados, começa o cortejo com a Santa em procissão, as senhoras da sociedade e as mulheres de recibo lado a lado, cada um cumprindo sua missão social.
Jorge Amado publicou esta obra em 1958. O Bataclan é apenas uma parte da história, o cerne está no romance entre um Árabe e uma Sertaneja, que como pano de fundo, relata a transformação de uma sociedade arcaica e autoritária para uma mais liberal, democrática e aberta.
Hoje em dia, quase 60 anos depois, ainda é forte o preconceito com as mulheres de recibo, que sofrem toda sorte de violências. Talvez por isso, o escritor tenha usado da sua arte para chamar atenção, que cada um na sociedade tem uma missão, algumas até muito mais árduas que a nossa.