Texto por Denise de Oliveira Milbradt | Fotos Divulgação
Cansaço e fadiga agravada pelas dores musculares, além de visão duplicada. A miastenia gravis – a doença da fraqueza – é um tipo de distúrbio autoimune de difícil diagnóstico, já que os sintomas aparecem e desaparecem espontaneamente e podem até se manifestar de forma descontinuada. O problema é que suas vítimas têm complicações graves, como insuficiência respiratória, pois a fraqueza pode atingir também o diafragma, músculo fundamental no processo de inspiração e expiração. Episódios como esse precisam de atenção redobrada, ventilação mecânica e, possivelmente, internação em unidades de atendimento semi-intensivo. A causa exata, no entanto, ainda é desconhecida.
Além disso, segundo dados do Ministério da Saúde, 70% dos pacientes apresentam um aumento do timo, órgão localizado próximo ao coração e aos pulmões, responsável por promover a maturação de linfócitos e órgãos linfoides, como o baço, e, aproximadamente, 10% dos pacientes podem ter timoma, tumor incomum ligado a esse órgão.
Como esses sintomas não aparecem em conjunto, os primeiros indícios do surgimento dessa doença autoimune podem passar despercebidos durante anos, até o agravamento do quadro. Em geral, a doença tem dois picos de incidência: a primeira entre os 20 e 30 anos, quando é mais comum em mulheres; e depois dos 50 anos, quando passa a ser prevalente de forma semelhante em ambos os sexos.
Para diagnosticá-la são levados em conta tanto critérios clínicos, ou seja, história compatível (relatos de períodos de fraqueza), além de testes laboratoriais e resposta positiva aos medicamentos anticolinesterásicos, que, após injeção, agem nos receptores neuromusculares, prevenindo a deterioração da substância acetilcolina e levando à melhora da força. Testes mais específicos também podem ser solicitados, como um exame de sangue que pesquisa a presença de anticorpos responsáveis por essa condição.
Para afastar a possibilidade de outras doenças e definir o diagnóstico com precisão, os médicos irão analisar ainda a resposta neurofisiológica da pessoa. “Realizamos o teste da estimulação repetitiva, que faz parte da eletroneuromiografia, quando é avaliada a junção neuromuscular. Induzimos laboratorialmente a fraqueza e vamos acompanhando a resposta do corpo. Quanto mais fraqueza, mais o resultado é positivo. E quanto mais acometida a pessoa está, maior a positividade”, esclarece o neurologista Denizart Neto.
Tratamento estabiliza crises e melhora a força física
Dado que a doença não tem cura, existem duas frentes para o tratamento da miastenia gravis: a medicamentosa e a cirúrgica. O objetivo é estabilizar as possíveis crises, reduzir a progressão da doença e melhorar a força do paciente. Neste momento prioriza-se a imunidade do paciente com o uso de imunossupressores e/ou corticoides. Já para melhorar a força física são prescritos anticolinesterásico. Dependendo da situação, é possível realizar também a cirurgia de retirada do timo (timectomia), principalmente se ele estiver com o tamanho aumentado ou houver suspeita de tumor.
Nas situações mais graves, com insuficiência respiratória, chamadas de crises miastênicas, duas terapias são altamente eficazes: a plasmaferese e a imunoglobulina. A primeira é um processo semelhante a uma filtragem de parte do sangue (o plasma) para retirar elementos que possam estar causando a doença. A segunda é como inserção de anticorpos para alterar o sistema imunológico por algum período.
Convivendo com a doença
Não há cura conhecida para miastenia gravis, no entanto, o tratamento pode permitir que o paciente passe longos períodos sem nenhum sintoma (crise). Os especialistas recomendam mudanças no estilo de vida, que em geral, ajudam a continuar com as atividades diárias. Na prática, deve-se programar períodos de descanso, evitar estresse e exposição ao calor, que podem fazer os sintomas piorarem. Além disso, mulheres com miastenia grave podem ficar grávidas, porém devem ser observadas de perto. O bebê poderá apresentar fraqueza temporária e necessitar de medicamentos por algumas semanas após o parto, mas geralmente não desenvolve a doença.
Novas pesquisas
Importantes centros de pesquisa buscam novas terapias e até mesmo a cura para a Miastenia Gravis. A publicação médica mais recente sobre o tema, feita pela equipe de um dos mais conceituados centros de tratamento norte-americano, o John Hopkins Medicine, relata bons resultados com a utilização da terapia genética. Os cientistas conseguiram suprimir a resposta imunológica incorreta que desencadeia a doença. A pesquisa ainda está sendo feita em ratos, mas é um grande avanço não somente no combate a essa condição, mas também a outras doenças autoimunes.
Sintomas comuns
-Dificuldade respiratória devida à fraqueza dos músculos da parede torácica;
-Dificuldades para mastigar ou deglutir, causando engasgo e sufocação;
-Subir escadas, erguer objetos ou levantar-se da posição serão tarefas difíceis de serem executadas;
-Paralisia facial ou fraqueza dos músculos faciais, causando dificuldades até para falar;
-Fadiga;
-Rouquidão ou alteração na voz;
-Visão dupla;
-Pálpebra caída.