Texto | Denise de Oliveira Milbradt |
Nascemos, crescemos e envelhecemos. É o percurso natural da vida, afinal, somos todos mortais. Na mulher, o ponto de partida para o retrocesso do sistema biológico é a menopausa, caracterizada pela falência da produção de óvulos e, portanto, o término do período reprodutivo. Até que o processo seja concluído ela irá passar por um longo período de alterações corporais, emocionais e hormonais com sintomas que se estabelecem na fase conhecida como climatério. Ela é comum dos 40 aos 55 anos.
Climatério vem do grego klimackter e significa escada, podendo ser entendido como uma escada descendente da função hormonal ovariana marcando a transição da fase reprodutiva para a não reprodutiva da mulher. A menopausa é apenas um evento que ocorre dentro desse período e requer a busca de ajuda médica para lidar com as turbulências que marcam essa fase. Para que a mulher seja diagnostica como menopausada precisa apresentar sintomas específicos e ficar pelo menos 12 meses sem menstruar. O diagnóstico só pode ser dado por um ginecologista, que realiza um retrospectivo a partir da avaliação da intensidade dos sintomas característicos, conforme explica o ginecologista-ultrassonografista Assis Oberdan Posser.
Na maioria das vezes, o diagnóstico será apenas clínico baseado nas queixas e não necessitará de exames sofisticados. Apenas em alguns casos poderão ser testados as dosagens hormonais. Já os exames realizados na farmácia para esse fim não são confiáveis e, podem levar a um diagnóstico equivocado.
Dr. Assis, como é conhecido entre os seus pacientes, detalha que o climatério por ser um período longo na vida de quase todas as mulheres e provoca mudanças profundas tanto na parte física, quanto psíquica. Assim, requer uma abordagem terapêutica individualizada. O objetivo segundo ele é que sejam discutidas medidas adequadas com o uso ou não de medicamentos para uma adaptação o menos traumática possível a essa fase. Para tanto, o profissional médico sugere um acompanhamento anual com a realização de exames clínicos laboratoriais, mamografia e, eventualmente, ultrassom das mamas e ginecológico.
Nesse período também são frequentes o aparecimento de câncer nas mamas, útero, ovários e de intestino. Além disso, a mulher passa a ter um risco aumentado para doenças cardiovasculares, porque com o declínio hormonal, passa a se igualar em risco aos homens. Também aumentam suas chances de apresentar osteoporose (hormônios teriam um efeito protetor que é perdido com a menopausa). Cerca de 30% das mulheres apresentará perda de massa óssea estabelecendo-se a osteopenia (diminuição) ou até osteoporose, que é a perda de osso que facilita a fratura óssea sendo a mais temida a do fêmur que é incapacitante e pode levar, inclusive, à morte.
Tratamentos para viver bem e com qualidade
Como cerca de um terço da vida das mulheres ocorrerá neste período mais conhecido como menopausa é importante que a mulher entenda que o que está acontecendo com o seu corpo é devido à diminuição de alguns hormônios: o estrogênio e a progesterona e, em menor parcela da testosterona. O médico sugere que hábitos sejam modificados para a melhoria da qualidade de vida, tais como evitar o cigarro, praticar exercícios e ter uma alimentação saudável. Sugere a ingestão de frutas, vegetais, peixe, alho, derivados de soja, leite, chocolate amargo (pelo menos 70% de cacau), azeite de oliva e meia taça de vinho tinto.
A terapia de reposição hormonal com estrogênio e progesterona, ou mesmo testosterona está indicada para casos individualizados. “Vai depender, principalmente, da intensidade dos sintomas e do quanto eles estão interferindo na qualidade de vida da paciente. Os sintomas mais desagradáveis são as ondas de calor (fogachos) acompanhadas de suores e insônia, além das alterações psíquicas e de humor sendo comum a depressão”, ratifica o ginecologista.
Quando a mulher já retirou seu útero a reposição poderá ser realizada apenas com o estrogênio (oral ou pela pele adesivo ou gel). Caso não tenha retirado seu útero, a reposição deverá ser realizada com o estrogênio e a progesterona, pois esta última tem a finalidade de proteção contra o câncer do útero. “Demais terapias com fitoestrogênio ou medicamentos homeopáticos tem pouca efetividade na diminuição dos sintomas climatéricos. Sou favorável a terapia de reposição hormonal quando indicada no início dos sintomas e, principalmente ,quando a mulher apresenta queixas vasomotores e urológicas em torno dos 50 anos, desde que não apresentem contraindicações”, aconselha Posser.
Menopausa prematura
A menopausa precoce é definida como a perda das menstruações antes dos 40 anos de idade e é acompanhada pelos mesmos sintomas da menopausa e afeta menos que 1% das mulheres, sendo a maioria de causa desconhecida. Mas outros fatores também são causais como fatores genéticos, doenças autoimunes, tratamento para o câncer com radioterapia ou quimioterapia, infecção ovariana ou tratamentos cirúrgicos com remoção dos ovários. A mulher com menopausa precoce apresenta um risco muito aumentado de morte prematura, osteoporose, doença cardiovascular (infarto ou AVC), infertilidade e doenças neurológicas como demência e Alzheimer, conforme Assis Oberdan Posser.
Sintomas do climatério
-Vasomotores: ondas de calor, suores noturnos, insônia, dores de cabeça, palpitação;
-Psíquicos: ansiedade, depressão, fadiga e outros, que costumam ocorrer em até 85% das mulheres e podem se prolongar por mais que cinco anos;
-Urogenitais: secura vaginal, desconforto ou dor nas relações sexuais. Sendo comum a perda involuntária de urina ou aumento da frequência de urinar.