Texto por Denise de Oliveira Milbradt | Fotos Divulgação
Pisar no acelerador, trocar de marcha, dar seta, prestar atenção no veículo de trás e não deixar o motor morrer pode ser tarefa automática para milhões de pessoas diariamente, mas para outras é motivo de pânico. Entre o total de vítimas da chamada “síndrome do carro na garagem”, 85% são mulheres, entre 30 e 45 anos, e 15% são homens, de acordo com pesquisa regida pela psicóloga Neuza Corassa, autora do livro “Vença o Medo de Dirigir” e diretora do Centro de Psicologia Especializado em Medos (CPEM), em Curitiba. Mas ainda há outra parcela que nem chega a tentar aprender a arte da direção. Na sua grande maioria compartilham o perfil ligado ao perfeccionismo excessivo.
Aos 50 anos, Jussara da Costa está pela quinta vez na lista de alunos que tentam conquistar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Quando foi para as ruas pela primeira vez, conta que o carro travou já na esquina, paralisada pelo pânico, precisou da ajuda do instrutor para voltar. Na segunda saída andou um pouco mais, ainda assim suas mãos suavam e se mantivera insegura a cada ultrapassagem. Os avanços até agora são lentos e difíceis.
De acordo com a diretora do Centro de Formação de Condutores Ritter, em Cachoeirinha, Roseli Wodarski da Silva, nas primeiras tentativas práticas para aprender a dirigir é comum que as pessoas sintam-se inseguras. É bem provável que em determinadas situações possa ocorrer taquicardia, mãos trêmulas, boca seca, que aos poucos tendem a diminuir com o tempo e a prática.
Desde o início das aulas, o CFC sugere ao condutor que faça exercícios físicos e respiratórios para assim diminuir a ansiedade e a tensão, antes de entrar no veículo. O próximo passo será familiarizar-se com os comandos do carro, tais como painéis, ajuste do banco, ligar o automóvel e, aos poucos, aumentar o trajeto percorrido. O ideal é que sejam em horários de menor movimento, pois as ruas estão mais tranquilas e os riscos de erro são menores. “Se o condutor não se sentir confiante, ainda poderá solicitar a um amigo que o acompanhe, desde que ele seja uma pessoa tranquila. Estar com alguém próxima pode fazer com que se sinta mais seguro e, assim, facilite a aprendizagem”, argumenta.
Roseli explica que os atuais 24 profissionais responsáveis pelas instruções práticas são orientados a estar comprometidos com o aprendizado do aluno, mantendo-se calmo e tranquilo para passar confiança e segurança ao candidato. Aos que solicitam ajuda, tentamos motivá-lo para melhorar sua autoestima e, em nenhuma hipótese, desistir dos seus objetivos. É fornecido também material de apoio teórico como: literatura relacionada ao medo de dirigir, para que ele possa desenvolver a capacidade de conhecimento e de como lidar com esta situação. “Nos casos mais graves é aconselhada a procura de um especialista das áreas de psicologia e psiquiatria”, frisa.
Já durante a aplicação dos testes e na entrevista o candidato, gradativamente, demonstra insegurança na execução dos testes, ao apresentar dificuldades para entender as explicações e até inquietação psicomotora. Os perfis são diversos, porém o percentual maior é de mulheres. “Entendo que o candidato não pode ser considerado incapacitado mesmo apresentando um comportamento diferenciado dos demais, os quais muitas vezes são identificados já na avaliação psicológica para a obtenção da CNH. É preciso tentar ajudá-lo de todas as formas possíveis”, detalha a psicóloga e perita examinadora de trânsito, Iara Bravo.
Luciano Lessa, especializado em reabilitação no trânsito, instrutor prático e teórico acredita que o treinamento praticado não prepara para o trânsito atual por ser focado no exame prático do Detran. Desde 2003 ele criou o Curso de Reabilitação para o Trânsito, em Porto Alegre, destinado a pessoas já habilitadas, que por algum motivo não dirigem ou precisam se reciclar. “O futuro motorista aprende macetes que não se aplicam na vida real e acaba tirando a carteira com detalhes para corrigir. Alguns retornam às aulas para aprimorar a técnica ou perdem o medo”, conta.
Para o instrutor, no entanto, é normal ter insegurança por falta de habilidade e intimidade com o veículo. “O carro da autoescola não é seu. O aluno nunca dirigiu o carro que tem na garagem, nunca esteve sozinho no trânsito. É comum pedir ajuda”, completa.
Melhores motoristas também são do sexo feminino
Ainda que a fobia por dirigir seja predominante no sexo feminino, uma recente pesquisa apontou que as mulheres estão superando os homens não só nos testes feitos dentro do carro, mas também quando observadas nas ruas movimentados do Reino Unido, o Hyde Park Corner. Um total de 50 motoristas enfrentaram avaliação de dentro do carro, enquanto 200 foram assistidos no cruzamento. Testados em 14 aspectos diferentes de condução, as mulheres marcaram 23,6 pontos de um total possível de 30, enquanto os homens totalizaram apenas 19,8 pontos.
Mas outra parte da pesquisa, realizada pela Seguradora Privilege, apontou que apenas 28% das mulheres achavam que dirigiam melhor que os homens, enquanto somente 13% deles acreditavam que elas eram superiores por trás dos volantes. Na categoria direção defensiva, apenas 4% das mulheres, mas 27% dos homens deixavam o carro ficar muito perto do veículo da frente.
A opinião das pessoas sobre suas habilidades de condução se distinguiam drasticamente de suas habilidades reais. Quando perguntados se eles achavam que dirigiam na velocidade apropriada para a situação, 84% dos homens afirmaram que regularmente o faziam, o que estava em contraste com os 64% que realmente respeitavam. Além disso, enquanto mais da metade dos homens acelerou no sinal amarelo, apenas 14% das mulheres o fizeram.
Dicas práticas para vencer o medo
-Autoconhecimento e autocontrole são fundamentais. Permita-se errar e procure ser menos exigente;
– Faça exercícios físicos ou relaxamento muscular para o corpo produzir endorfinas capazes de neutralizar a química da ansiedade, chamada noradrenalina;
– Aproxime-se de seu carro dentro da garagem. Comece aos poucos: entre, ajuste o banco e familiarize-se. Ainda dentro da garagem, ligue o automóvel e leve-o para a frente e para trás;
– Dê uma volta no quarteirão, de preferência em horários sem movimento e em ruas tranquilas. Quando perceber que a ansiedade durante o percurso é nula, ande por dois quarteirões e, então, pelo bairro;
– Quando se sentir mais confiante, inicie trajetos maiores. Imponha dez diferentes destinos;
– Convide um amigo para acompanhá-lo apenas se ele for calmo e não privar sua liberdade como motorista;
– Se o medo impede que você comece sozinho, peça ajuda a um profissional.