| Saul M. Sastre
Professor, escritor e palestrante
Começou o inverno. O solstício de julho no hemisfério sul derruba as temperaturas. É hora de colocar os casacos para não perder calor. Algumas aves migram a procura de regiões com temperaturas mais amenas. Animais como ursos hibernam para diminuir o gasto de energia, e para nós, resta enfrentar e sobreviver.
É o período de comer em maior quantidade para compensar gastos energéticos. Nosso corpo trabalha mais para se aquecer e ainda precisa de vitaminas e minerais além do normal para prevenir as famigeradas doenças típicas deste período, como gripes e resfriados. E por andarmos encolhidos de frio, temos mais dores no corpo.
O inverno é hard. É quando a natureza tira férias para recuperar energias e até o sol sai de folga, deixando as noites mais longas. Os dias são cinzentos e úmidos. Muita gente sofre de tristeza no frio. Em países de temperaturas tradicionalmente baixas, os índices de suicídio são maiores que em lugares tropicais.
Mas independente de qualquer solstício, todos temos nossos invernos. São períodos de dificuldades, momentos difíceis que nos fazem gastar mais energia para viver. Nos nossos invernos particulares não adianta muito casaco, nem andar encolhido ou cabisbaixo, o uniforme para enfrentar esse frio é a coragem.
Um inverno particular pode durar longos períodos ou até mesmo vinte e quatro horas. Um dia de inverno é aquele que nada dá certo. O despertador não toca, o chuveiro não aquece, o elevador tranca e o carro não pega. O chefe reclama sem razão, a esposa fica com ciúmes, o filho não atende o celular. No almoço a comida azeda, não tem sobremesa e o cafezinho esfria. Um negócio é perdido na tarde e quando a noite chega, se torce para que logo amanheça.
Existem os que tentam fugir de seus invernos migrando para outras regiões, ou hibernando seus medos, tudo em vão. A fuga é uma forma de se suicidar aos poucos. Ninguém escapa permanentemente do seu inverno. As gripes e os resfriados destes períodos duros, fazem parte do desenvolvimento pessoal.
Mas todo o inverno acaba quando o equinócio da primavera acontece. É o fim de um ciclo natural que deixa aprendizados. Inverno é bom para quem sabe aproveitá-lo. Uma lareira, chocolate quente, um bom vinho, são formas prazerosas de enfrentar o frio. Com inteligência, enxergando obstáculos como oportunidades de melhoria, o inverno nos serve de exemplo da natureza, que nos torna mais forte e nos deixa melhor depois de cada solstício. Nenhum inverno ou verão dura para sempre.