Por Aline Peterson
Professora de Inglês e Português e estudante de Mestrado na área de Literatura Comparada
O 43° Festival de Cinema de Gramado, ocorrido entre os dias 7 e 15 de agosto desse ano, exibiu 15 curtas e sete longas nacionais, além de sete longas estrangeiros. O festival homenageou o cineasta Fernando Pino Solanas, que recebeu o Kikito de Cristal; o cineasta brasileiro Zelito Viana, agraciado com o troféu Eduardo Abelin; Daniel Filho, ator, diretor, produtor e roteirista, que recebeu o troféu Cidade de Gramado; e a atriz Marília Pêra, homenageada com o troféu Oscarito, recebido pela atriz pelas mãos de seus três filhos.
O Festival faz parte da história do cinema brasileiro, e tem sido cenário de momentos expressivos para a história do Brasil e para a consolidação da sétima arte no país. De acordo com o diretor Fernando Meirelles, autor de filmes extraordinários como Ensaio sobre a cegueira e 360, “a trajetória do Festival de Cinema de Gramado acompanhou todas as fases do cinema nacional. Se olharmos para a história do Festival, podemos saber como foi o nosso Brasil e o nosso cinema nos últimos 40 anos.”
Este ano, o ganhador do festival foi o filme brasileiro, Ausência, de Chico Teixeira. O grande vencedor levou quatro Kikitos: melhor filme, trilha sonora, roteiro e melhor diretor. O filme conta a história do amadurecimento de um adolescente que não contou com a figura paterna durante essa significativa etapa de sua vida.
Entre os longas estrangeiros, os mais premiados foram o desnorteador Venecia, filme cubano de Kiki Alvarez, com kikitos de melhor atriz, melhor fotografia e melhor diretor, e o filme mexicano En La Estancia, de Carlos Armella, que recebeu kikitos de melhor ator, melhor roteiro, além do prêmio especial Dom Quixote. No entanto, quem levou o prêmio de melhor longa estrangeiro foi o argentino La Salada, de Juan Martín Hsu.
Há também um filme que, apesar de não premiado pelo festival, se destacou entre aqueles que tive a oportunidade de assistir. O filme em questão é Presos, filme costa-riquenho de Esteban Ramírez Jímenez, que conta a história de Vitória (Natalia Arias), uma jovem que, sob circunstâncias incomuns, conhece um prisioneiro, Jason (Leynar Gómez) e se apaixona por ele. O filme é inquietante e, entre os temas que aborda, um deles é a questão em torno das famílias dos presidiários, que se acumulam em multidões em frente aos presídios e que têm de se adaptar às normas e regras daquele ambiente. Essa adaptação abarca inclusive a sobrevivência, não apenas do preso, mas também dos membros de sua família, que passam a lidar com todos os problemas em relação às normas e imposições da prisão, já que é posta no jogo de poder das práticas prisionais. A história leva a jovem, assim como o espectador, a questionar os verdadeiros limites de cada indivíduo, assim como nos leva a indagar a respeito do verdadeiro significado de liberdade. Quem está preso, afinal?
A incerteza acerta dos destinos dos dois protagonistas de Presos gerou até mesmo um debate entre Esteban Ramírez, o diretor, e a audiência na manhã seguinte à apresentação do filme. Apesar de o diretor manifestar que o desfecho está claro nas reações de Vitória, o público chegou a interpretações diversas, o que é formidável e torna o filme ainda mais rico.
Entre os curtas, há um belíssimo: Haram, de Max Gaggino. O curta recebeu o Prêmio Especial do Júri e mostra as diferenças culturais entre o Brasil, especialmente a Bahia, e a cultura muçulmana. Em poucos minutos, percebemos como essas diferenças, mesmo às vezes parecendo imensuráveis, podem complementar culturas tão distantes e até mesmo, através da música, formar grandiosas amizades. Percebemos a dubiedade entre a beleza e a brutalidade de cada cultura, no estranhamento da cultura que vem de fora e até mesmo da nossa própria, já que estamos a contemplando através da tela de cinema. Essa beleza torna-se ainda maior quando temos a chance de percebê-la através dos olhos de uma criança.